Salman Rushdie: 'A verdade é mais estranha que a ficção'
Paris, 15 Set 2018 (AFP) - "É estranho que corresponda aos autores de ficção recriar a ideia da verdade", observa, expressando sua surpresa, afirma o escritor indiano-britânico Salma Rushdie em sua passagem por Paris para promover o lançamento de seu mais novo livro.
"A decadência de Nero Golden" ("A Casa Golden", em Portugal) apresenta um panorama dos Estados Unidos, de Barack Obama a Donald Trump, ao qual o escritor de 71 anos se compara ao Coringa, o vilão de Batman.
"No entanto, eu comecei esse romance muito antes da eleição presidencial de 2016", destaca o controverso autor de "Os versos satânicos".
O romance que pretende apresentar um "retrato social de Nova York durante a última década" antecipa, com efeito, a vitória do magnata imobiliário diante de seu adversária democrata.
"Na manhã de 8 de novembro de 2016, quando fui votar, estava convencido de que à noite teríamos uma mulher presidente pela primeira vez", lembra o escritor, que recentemente obteve a cidadania norte-americana.
"Na verdade, embora eu ainda não soubesse, meu livro já sabia a verdade", acrescenta. "Às vezes, seu livro é mais esperto que você".
"Neste romance altamente realista, eu introduzi um elemento surreal como o Coringa, o vilão dos quadrinhos que se torna presidente", explica ele. "Mas, quase dois anos depois, isso não parece mais tão surrealista. De fato, Trump se transforma no Coringa. Não me surpreenderia se tingisse a pele de verde".
"Não é apenas sobre Trump, é sobre toda essa década em que passamos do otimismo à loucura e ao desespero, a sociedade [americana] está em pedaços e as pessoas não se entendem ou não acreditam umas nas outras", lamenta o romancista.
- Máfia e jihadistas -O novo livro de Rushdie trata com erudição, humor e ironia alguns dos temas favoritos do autor, como identidade.
O narrador é um jovem e ambicioso cineasta americano chamado René. Ele é fascinado por seus novos vizinhos: um misterioso milionário que se chama Nero Golden e seus três filhos, Petya, autista e gênio dos computadores, Apu, artista plástico, e Dionysos, que tem dúvidas sobre sua orientação sexual.
Todo mundo mora no seleto bairro nova-iorquino de Greenwich Village. Pouco a pouco, o passado deles virá à tona.
"Os ataques de [2008] em Mumbai, minha cidade natal, foram o ponto de partida do livro para mim", explica o escritor.
"Amigos que moram lá me disseram que estava claro que a máfia criminosa local colaborava com os jihadistas. O chefão do crime organizado indiano, Dawood Ibrahim, que dirigia a 'D-Company', se converteu ao islamismo cada vez mais radical", conta Rushdie, que fala de "um triângulo muito estranho entre a indústria do cinema e a alta sociedade de Mumbai, as gangues e os jihadistas".
Por que o pai e seus três filhos escondem suas origens? Por que eles mudaram de nome?
"Na vida real, as pessoas fazem isso o tempo todo. Nas ruas de Nova York, é possível encontrar pessoas do mundo todo que mudaram e simplificaram seu nome", afirma Rushdie.
"O magnata do cinema Samuel Goldwyn se chamava Samuel Goldfish e, felizmente, ele o mudou quando chegou à América, se não não teríamos tido a Metro Goldfish Mayer."
Embora não fale sobre isso, sabe-se que o romancista teve que usar um pseudônimo após a fatwa (sentença de morte segundo a justiça islâmica) lançada contra ele pelo regime iraniano em 1989, por conta da publicação de "Os Versos Satânicos".
"Por um breve momento, usei um pseudônimo, mas nunca usei na minha vida ou para o meu próprio trabalho, foi algo que me permitiu assinar cheques, alugar apartamentos, odiei isso", explica Rushdie, que não gosta de falar sobre esse período de sua vida.
Nas instalações de sua editora parisiense, é possível ver, no entanto, os discretos policiais à paisana que estão encarregados de proteger o escritor.
"A decadência de Nero Golden" ("A Casa Golden", em Portugal) apresenta um panorama dos Estados Unidos, de Barack Obama a Donald Trump, ao qual o escritor de 71 anos se compara ao Coringa, o vilão de Batman.
"No entanto, eu comecei esse romance muito antes da eleição presidencial de 2016", destaca o controverso autor de "Os versos satânicos".
O romance que pretende apresentar um "retrato social de Nova York durante a última década" antecipa, com efeito, a vitória do magnata imobiliário diante de seu adversária democrata.
"Na manhã de 8 de novembro de 2016, quando fui votar, estava convencido de que à noite teríamos uma mulher presidente pela primeira vez", lembra o escritor, que recentemente obteve a cidadania norte-americana.
"Na verdade, embora eu ainda não soubesse, meu livro já sabia a verdade", acrescenta. "Às vezes, seu livro é mais esperto que você".
"Neste romance altamente realista, eu introduzi um elemento surreal como o Coringa, o vilão dos quadrinhos que se torna presidente", explica ele. "Mas, quase dois anos depois, isso não parece mais tão surrealista. De fato, Trump se transforma no Coringa. Não me surpreenderia se tingisse a pele de verde".
"Não é apenas sobre Trump, é sobre toda essa década em que passamos do otimismo à loucura e ao desespero, a sociedade [americana] está em pedaços e as pessoas não se entendem ou não acreditam umas nas outras", lamenta o romancista.
- Máfia e jihadistas -O novo livro de Rushdie trata com erudição, humor e ironia alguns dos temas favoritos do autor, como identidade.
O narrador é um jovem e ambicioso cineasta americano chamado René. Ele é fascinado por seus novos vizinhos: um misterioso milionário que se chama Nero Golden e seus três filhos, Petya, autista e gênio dos computadores, Apu, artista plástico, e Dionysos, que tem dúvidas sobre sua orientação sexual.
Todo mundo mora no seleto bairro nova-iorquino de Greenwich Village. Pouco a pouco, o passado deles virá à tona.
"Os ataques de [2008] em Mumbai, minha cidade natal, foram o ponto de partida do livro para mim", explica o escritor.
"Amigos que moram lá me disseram que estava claro que a máfia criminosa local colaborava com os jihadistas. O chefão do crime organizado indiano, Dawood Ibrahim, que dirigia a 'D-Company', se converteu ao islamismo cada vez mais radical", conta Rushdie, que fala de "um triângulo muito estranho entre a indústria do cinema e a alta sociedade de Mumbai, as gangues e os jihadistas".
Por que o pai e seus três filhos escondem suas origens? Por que eles mudaram de nome?
"Na vida real, as pessoas fazem isso o tempo todo. Nas ruas de Nova York, é possível encontrar pessoas do mundo todo que mudaram e simplificaram seu nome", afirma Rushdie.
"O magnata do cinema Samuel Goldwyn se chamava Samuel Goldfish e, felizmente, ele o mudou quando chegou à América, se não não teríamos tido a Metro Goldfish Mayer."
Embora não fale sobre isso, sabe-se que o romancista teve que usar um pseudônimo após a fatwa (sentença de morte segundo a justiça islâmica) lançada contra ele pelo regime iraniano em 1989, por conta da publicação de "Os Versos Satânicos".
"Por um breve momento, usei um pseudônimo, mas nunca usei na minha vida ou para o meu próprio trabalho, foi algo que me permitiu assinar cheques, alugar apartamentos, odiei isso", explica Rushdie, que não gosta de falar sobre esse período de sua vida.
Nas instalações de sua editora parisiense, é possível ver, no entanto, os discretos policiais à paisana que estão encarregados de proteger o escritor.
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