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Funcionário de alto escalão diz que querem acabar com Trump

05/09/2018 21h12

Washington, 6 Set 2018 (AFP) - Membros de alto escalão da administração de Donald Trump estão tão alarmados com o "vacilante" e "imoral" comportamento do presidente que estão trabalhando para acabar com ele, disse nesta quarta-feira (5) um "funcionário de alto escalão" em um artigo publicado sem assinatura no New York Times.

"O presidente Trump enfrenta um teste em sua presidência como nunca antes foi enfrentado por um líder americano moderno", escreveu o funcionário no artigo intitulado "Sou parte da resistência dentro da administração Trump".

"O dilema - que ele não compreende do todo - é que muitos dos funcionários de alto escalão de sua própria administração estão trabalhando diligentemente de dentro para frustrar parte de sua agenda e suas piores inclinações", escreveu o hierarca.

"Eu sei. Sou um deles".

O autor do artigo descreveu uma presidência de "duas vias": em uma, Trump diz uma coisa e, na outra, sua equipe faz uma diferente, no que, por exemplo, chamou de a "preferência por autocratas e ditadores" que Trump tem.

E os funcionários trabalham ativamente para se isolar do estilo de liderança "impetuoso, de confronto, insignificante e ineficaz" de Trump, afirmou o funcionário.

"A raiz do problema é a imoralidade do presidente", indicou. "É por isso que muitos indicados por Trump prometeram fazer o que puderem para preservar nossas instituições democráticas enquanto frustram os impulsos mais equivocados do senhor Trump até que seu mandato termine".

O presidente não demorou a criticar o autor do texto, embora não se saiba publicamente o seu nome, e o "desonesto" Times.

"Eles não gostam de Trump e eu não gosto deles", afirmou o presidente. "Se o falido New York Times tem um editorial anônimo - anônimo significa covarde, um editorial covarde - acreditem em mim, estamos fazendo um ótimo trabalho", afirmou.

Depois, o presidente tuitou: "TRAIÇÃO?".

A porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, qualificou o artigo de "patético, imprudente e egoísta", e criticou o Times por tê-lo publicado.

"Cerca de 62 milhões de pessoas votaram pelo presidente Donald J. Trump em 2016", disse Sanders. "Nenhum deles votou em um covarde, fonte anônima do falido New York Times".

- 'Imoralidade', 'ficção' e Woodward -O texto sem assinatura parece reforçar as afirmações feitas pelo jornalista Bob Woodward em seu novo livro, cujo conteúdo parcial foi divulgado na terça-feira e no qual descreve uma equipe virtual de altos funcionários da Casa Branca e do gabinete para evitar que Trump tome decisões prejudiciais à economia e à segurança nacional dos Estados Unidos.

A Casa Branca disse que o livro de Woodward não tem "nada além de histórias inventadas", e Trump o chamou de "obra de ficção".

Mas o artigo do Times sugere que a dissidência e a resistência dentro da Casa Branca a Trump são ainda mais profundas do que as descritas por Woodward.

O autor do artigo enfatizou que, ele ou ela, continua comprometido com a agenda republicana e não se alinha com a oposição democrata.

"Acreditamos que nosso primeiro dever é com este país, e o presidente continua agindo de maneira prejudicial para a saúde da nossa república", escreveu o funcionário, acrescentando que "a raiz do problema é a imoralidade do presidente".

Também assegurou que, no início da administração, alguns companheiros calmamente discutiram em voz baixa a invocação da 25ª Emenda à Constituição dos Estados Unidos, que permite a destituição de um presidente considerado incapaz de exercer as suas funções.

"Mas ninguém queria precipitar uma crise constitucional. Assim, iremos fazer o que pudermos para guiar a administração na direção certa até que, de uma forma ou de outra, acabe".

A seção de opinião do jornal nova-iorquino reconheceu o passo extraordinário que deram ao publicar um artigo de opinião anônimo, e disse que o fez a pedido do autor, cuja identidade o jornal conhece.

"Acreditamos que publicar este ensaio anonimamente é a única maneira de oferecer uma perspectiva importante aos nossos leitores", indicou o jornal.