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Mujica vai ao Festival de Veneza para estreia de documentário sobre sua vida

Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai, passa pelo tapete vermelho do Festival de Veneza - Antony Jones/Getty Images
Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai, passa pelo tapete vermelho do Festival de Veneza Imagem: Antony Jones/Getty Images

Da EFE, em Veneza (Itália)

02/09/2018 20h19

O ex-guerrilheiro e ex-presidente uruguaio José Mujica chegou neste domingo ao Festival de Veneza para a estreia do documentário do diretor sérvio Emir Kusturica, "El Pepe, una vida suprema", dedicado à sua visão de mundo, suas convicções políticas e éticas.

Mujica, de 83 anos, que está há quase uma semana na Itália, onde se reuniu com políticos e participou de encontros públicos em diferentes cidades para apresentar o seu livro em italiano "Una oveja negra en el poder", desembarcou no Lido de Veneza no dia da estreia de outro filme inspirado em sua vida: "La noche de 12 años", do uruguaio Álvaro Brechner.

O filme sobre os horrores da ditadura, cuja exibição não assistiu, conta seu dramático e longo encarceramento em condições terríveis, sua luta para sobreviver, o valor da introspecção, da profunda solidão em que viveu por mais de um década nos calabouços da ditadura militar.

"Você aprende com o que você vive, não com o que contam", explicou Mujica em uma entrevista à rádio italiana na qual falou sobre a América Latina, Europa e sua relação com o poder.

Apresentado fora de competição no grande salão do Palazzo del Cinema, o ovacionado documentário de Kusturica é um retrato afetuoso de um homem autêntico e sábio, que aprendeu com a "dor e não com as vitórias", como ele confessa.

O documentário começa com Mujica e Kusturica cumprindo calmamente o ritual de preparação de um mate.

Baseado nas longas conversas que o cineasta e músico sérvio teve com o líder político latino-americano, que desperta devoção em todo o mundo e críticas em seu país, o filme gira em torno do dia em que deixou a presidência do Uruguai, em 1 de março de 2015.

O ex-guerrilheiro que presidiu o Uruguai por cinco anos, um emblema da esquerda latino-americana, admirado por sua "revolução pacífica", conta sua vida, os anos de luta armada e os passados nos calabouços da ditadura.

O autor de filmes lendários e premiados como "Guernica" (1978) e "Quando papai saiu em viagem de negócios" (1985), alcança uma forte afinidade com Pepe, o homem humilde e iconoclasta, bem como com seu discurso anticonsumista e sua defesa do meio ambiente.

"Através de sua jornada de vida e seu exemplo pessoal, José Mujica dá esperança de alcançar ideais", explicou Kusturica no catálogo de apresentação do documentário.

Fotografias em preto e branco, imagens do filme de Costa-Gavras "Estado de Sitio" (1972) sobre o golpe militar no Uruguai, a vida diária na fazenda, sua relação com a natureza e sua cadela com três pernas recentemente falecida, ilustram o estilo austero que o transformou em ícone para metade do mundo.

Mujica, que cedeu parte de seu salário como presidente, também fala do amor por sua esposa, Lucia Topolansky. "Seu amor pela vida e pela natureza, é o núcleo de sua ideologia", resumiu Kusturica ao falar sobre seu trabalho em Veneza.