Jornalismo de qualidade enfrenta custos financeiros e humanos
Paris, 28 Ago 2018 (AFP) - Produzir um jornalismo de qualidade é cada vez mais oneroso para os meios de comunicação, que lutam pela sobrevivência econômica, especialmente em zonas perigosas e no âmbito da investigação.
Além do dramático custo humano das reportagens em zonas de perigo - 50 jornalistas morreram no exercício de suas funções desde janeiro no mundo, quase tanto como em todo 2017, segundo a ONG Repórteres Sem Fronteiras -, este trabalho representa uma carga financeira crescente que muitos jornais, rádios e televisões já não podem assumir.
"Cada vez é mais caro cobrir conflitos em países como Iraque, visto que se requer muitos funcionários para evitar os riscos: 'fixers', seguranças, tradutores, motoristas, etc. Há alguns anos, o New York Times calculou que um dia de reportagem em Bagdá lhe custava 10.000 dólares", explica Jean-François Leroy, diretor do festival anual de fotojornalismo Visa pour l'image de Perpinhã (sul da França).
Antigamente, "em geral, a imprensa não era um alvo (para os beligerantes), pelo contrário, era uma aliada", mas a situação mudou nos últimos anos, especialmente com o surgimento de grupos especializados no sequestro de jornalistas para exigir recompensas, segundo Leroy. Isto obrigou os meios a multiplicarem as medidas de proteção de seus jornalistas.
A isso se acrescenta o desenvolvimento acelerado das tecnologias, que implica uma renovação frequente do custoso material de fotógrafos e cinegrafistas.
Paralelamente, com o surgimento da internet, os rendimentos da imprensa caem e portanto também as tarifas das reportagens, levando a uma precarização do ofício de fotojornalista, segundo Leroy.
"Há 30 anos, não era incomum que uma reportagem fosse publicada em uma revista pelo equivalente a 15.000 euros. Hoje em dia, o que é excepcional é que se chegue a 3.000 ou 4.000 euros".
Daí o chamado feito pelo diretor do escritório da AFP em Bagdá, Sammy Ketz, em favor da criação de "direitos conexos" na UE. Esta medida controversa obrigaria os gigantes Google e Facebook - ambos captam a maior parte dos rendimentos publicitários na internet - a retribuir aos criadores de conteúdos na internet, entre eles os meios de comunicação.
Os GAFA (Google, Apple, Facebook, Amazon) afirmam que esta reforma ameaçaria a gratuidade da internet.
"A época em que se ia à guerra com jaqueta ou em mangas de camisa e uma carteira de jornalista no bolso ao lado do fotógrafo ou cinegrafista acabou. Agora se necessitam coletes à prova de bala, capacetes, veículos blindados, seguros e inclusive guarda-costas para evitar ser sequestrados. Quem paga estes gastos? Os meios, e é caro", escreveu Ketz no texto assinado por uma centena de grandes repórteres e chefes de redação de 27 países europeus.
- A investigação é "cara e arriscada" -A investigação é outro âmbito-chave do jornalismo afetado pela queda de recursos dos meios.
"O jornalismo luta pela sua sobrevivência. Está morrendo". "As empresas (de meios) cortam seus gastos, e primeiro na investigação, visto que é muito cara", constata Gerard Ryle, diretor do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ, sigla em inglês), organismo por trás das revelações sobre a evasão fiscal no mundo conhecidas como "Papéis de Panamá" e "Papéis do Paraíso".
Como outras organizações, o ICIJ nasceu precisamente para dividir estes gastos entre diferentes meios.
"São atividades que não só tomam muito tempo mas além disso são arriscadas: não há garantias de que se chegue a uma publicação e, se isso acontece, pode custar uma fortuna em gastos jurídicos se for preciso se defender ante um tribunal", afirma à AFP.
O custo é "muito difícil de cifrar", mas é alto, devido por exemplo à dimensão internacional do trabalho de investigação. "Os papéis de Panamá custaram 2 milhões de dólares ao ICIJ, mas seria necessário acrescentar os gastos dos 300 jornalistas de meios associados que colaboraram no projeto", afirma o diretor do ICIJ.
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