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Após séculos de saques, antiga cidade romana de Volubilis renasce

06/08/2018 13h13

Moulay Driss Zerhoun, Marrocos, 6 Ago 2018 (AFP) - A antiga cidade romana de Volubilis, hoje no território do Marrocos, foi saqueada durante séculos, mas agora volta a exibir com orgulho seus tesouros aos turistas, que aparecem cada vez em maior número.

Por Volubilis, fundada no século III antes da era cristã e inscrita no patrimônio mundial da Unesco desde 1997, "passaram várias civilizações", e a cidade viveu, entre outras, uma florescente época romana e um breve período de reconquista árabe, explica à AFP M'Hamed Alilu, um dos conservadores do sítio arqueológico.

Os 42 hectares ocupados pela cidade (chamada Oualili em árabe) estão situados perto da cidade de Moulay Driss, no centro do Marrocos, em meio a uma frondosa vegetação.

Em ambos os lados da rua principal de Volubilis, que chegou a ter 15.000 habitantes, há pórticos e mansões decoradas com mosaicos. Também conta com um arco do triunfo, uma basílica, termas e um capitólio, símbolo da presença romana entre o ano 42 d.C. e 285.

Aproximadamente um terço do sítio corresponde ao período islâmico, mas ainda não foram feitas escavações que provavelmente revelarão tesouros arqueológicos, afirma Alilu.

Quando a dinastia árabe dos Idríssidas transformou Fez em sua nova capital, no fim do século VIII, a cidade caiu no esquecimento, exceto para os que saqueavam seu mármore e suas estátuas romanas.

No fim do século XVII, acredita-se que o sultão marroquino Mulai Ismail enviou milhares de escravos para recuperar o mármore e as colunas da cidade para construir seu palácio em Mequinez, a cerca de 30 km de distância.

"No caminho que vai de Volubilis a Mequinez foram encontrados capitéis abandonados pelos escravos, que fugiram quando souberam que Mulai Ismail tinha morrido", explica o conservador.

- Estátua roubada -No início do século XX, em 1915, os arqueólogos começaram a desenterrar vestígios de Volubilis e a restaurar o sítio. Mas durante o período colonial francês (1912-1956) os saques voltam a ocorrer.

Em 1982, o desaparecimento de uma estátua de mármore de Baco, o deus do vinho, ocupou as primeiras páginas dos jornais, até o ponto em que o rei Hassan II decide enviar os gendarmes para interrogar os habitantes da zona.

Segundo a imprensa marroquina, muitos agricultores que não sabiam nada de deuses romanos foram "interrogados, maltratados e espancados" em vão porque a estátua nunca apareceu.

"As pessoas daqui ainda estão traumatizadas", afirma um habitante de Moulay Driss.

Em 2006, parte dos mosaicos de Volubilis foi arrancada, segundo a revista marroquina de história Zamane, e, em 2011, um homem foi detido quando tentava roubar uma peça de bronze da época romana considerada muito valiosa.

Mohamed Charrud, um geólogo da faculdade de ciências de Fez, explicou em 2013 ao jornal marroquino 'Le Matin' que durante suas pesquisas em Volubilis viu muitas vezes pessoas que "se instalavam perto do sítio arqueológico buscando objetos antigos de valor".

No entanto, Mustafa Atki, outro conservador do sítio, afirma que "o que se diz sobre os saques às vezes é exagerado".

"Sempre houve um trabalho diário de manutenção e restauração", explica à AFP.

No mesmo sentido, M'Hamed Alilu assegura que hoje o sítio está "fechado, cuidado e bem vigilado, com uma equipe de 14 seguranças que trabalham dia e noite e com câmeras por todos os lados".

As autoridades marroquinas fazem todo o possível para preservar esta importante atração turística.

Desde que foi aberto um museu em 2013, Volubilis atrai em média 200.000 visitantes por ano. "Em 2017, ultrapassamos pela primeira vez os 300.000", comemorou Atki.