Relação entre Trump e a rede CNN é cada vez pior
Nova York, 27 Jul 2018 (AFP) - Jornalistas sem acesso à Casa Branca, sem poder fazer perguntas, ou sem conseguir entrevistar o presidente: o governo Donald Trump manifesta cada vez mais abertamente sua animosidade contra a rede CNN, que vai-se mostrando ainda mais incisiva em sua cobertura.
Na quarta-feira (25), o alvo da vez foi a jornalista Kaitlan Collins, que teve seu acesso proibido para uma entrevista coletiva por ter feito perguntas consideradas "inapropriadas" ao presidente dos Estados Unidos.
Um incidente que se somou a vários outros, em especial com um de seus principais correspondentes na Casa Branca, Jim Acosta.
Passados 18 meses de sua posse, Trump não concedeu uma única entrevista à CNN, embora já tenha conversado com outras emissoras.
Sua hostilidade contra a rede é tamanha, afirma o jornal "The New York Times", que ele teria-se irritado que o aparelho de televisão de sua mulher, Melania, no avião presidencial Air Force One, estivesse ligado na CNN.
A imprensa em geral - frequentemente chamada de "Fake News Media" pelo magnata nova-iorquino - é atacada sem descanso pelo presidente, mas nenhum desses veículos, nem mesmo o "New York Times", recebe esse tratamento.
Com isso, seus jornalistas se mostram particularmente virulentos com o empresário. Don Lemon, uma das estrelas da emissora, já chamou Trump de "racista".
Para o professor de televisão e mídia Robert Thompson, da Universidade de Syracuse, a imagem da CNN - que ainda se situa "no meio", "com um pouco de objetividade, mesmo que essa palavra não queria dizer grande coisa" - e sua propensão a evocar temas problemáticos para Trump "o deixam completamente maluco".
Fox News à direita, MSNBC à esquerda, outros dois canais de informação, escolheram abertamente seu lado.
"Nenhum veículo é completamente objetivo, (...) mas entre os principais canais de informação, acho que (a CNN) é aquela que mais tenta ser", afirma Edward Burmila, professor de Ciência Política na Universidade de Bradley.
"Quem é de esquerda acha a CNN apagada e inofensiva, e os conservadores a veem como propaganda comunista", completa.
- Disputa de audiência -Ainda assim, é difícil apontar uma razão clara para essa insistente raiva de Donald Trump.
Alguns evocam a relação complexa de Trump com o presidente da CNN, Jeff Zucker, que lhe ofereceu uma plataforma de lançamento para seu reality show "O aprendiz", quando dirigia a rede NBC, mas que depois se distanciou o magnata.
Para Robert Thompson, Donald Trump atacaria a CNN com mais frequência do que os outros veículos, porque vê na emissora um dos únicos canais de informação a ainda poder ter a expectativa de influenciar eleitores indecisos.
Os repetidos ataques sofridos pela emissora em mais de dois anos às vezes atrapalham o trabalho de seus jornalistas, mas também contribui para lhe dar uma visibilidade sem precedentes.
Ainda que a CNN conte com uma sólida audiência, com seu número tendo quase dobrado em relação aos níveis registrados no início de 2015, antes do início da campanha presidencial, ela disputa espaço com a Fox News e com a MSNBC.
No segundo trimestre, a Fox News tinha cerca de 2,4 milhões de telespectadores em média no horário nobre, e a MSNBC, 1,7 milhão, enquanto a CNN somava pouco mais de 900.000.
Recentemente, a CNN mexeu na grade para incluir Chris Cuomo, irmão do governador democrata do estado de Nova York, Andrew Cuomo, no horário mais importante e mais comentado do dia, de 21h a 22h.
"Isso indica que a CNN quer concorrer pela influência crescente da MSNBC na esquerda e que eles consideram que bater forte em Trump é bom para a audiência", avalia Edward Burmila.
Além disso, os principais apresentadores da emissora se permitem fazer cada vez mais comentários. Recentemente, Anderson Cooper considerou a cúpula de Donald Trump com o presidente russo, Vladimir Putin, e a entrevista coletiva que se seguiu como "talvez uma das mais vergonhosas performances de um presidente americano" na cena mundial.
"A CNN faz no horário nobre a mesma coisa que os outros canais de informação, ou seja, os programas são baseados em personalidades", avalia Robert Thompson.
"Acho que esses comentários da parte de jornalistas, que eu diferencio dos analistas externos, são um erro", afirma o professor de Jornalismo Paul Janensch, da Universidade de Quinnipiac.
"Se eu dirigisse a CNN", afirmou, "eu diria aos jornalistas para se aterem aos fatos".
tu-jm/leo/lab/tt
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