Topo

Pamplona prepara festas de São Firmino, em guerra às agressões sexuais

05/07/2018 16h32

Madri, 5 Jul 2018 (AFP) - Vinho, touros... e guerra ao sexismo. As festas de São Firmino, na cidade espanhola de Pamplona, começam nesta sexta-feira em um contexto de luta contra as agressões sexuais, após o caso midiático "La Manada".

Pamplona se proclamou "cidade livre de agressões sexistas", antes de receber centenas de milhares de turistas do mundo inteiro, ansiosos para assistir às famosas corridas de touros.

Foi nesta cidade, nas festas de São Firmino 2016, que cinco jovens autodenominados "La Manada" abusaram em grupo de uma menina de 18 anos na entrada de um edifício.

Os cinco, naturais de Sevilha, estupraram a menina sucessivamente, filmaram a situação com seus celulares e provocaram uma tempestade social que deu asas ao movimento feminista em todo o país.

Em abril foram condenados a nove anos de prisão por "abuso sexual", mas não pela acusação mais grave de estupro, o que de imediato suscitou manifestações de repúdio em várias partes do país.

As mobilizações contra "a justiça patriarcal" se repetiram quando, no mês passado, os jovens foram colocados em liberdade provisória sob fiança, à espera de que resolvam suas apelações e a da Promotoria, que considerou a condenação inicial insuficiente.

"A sociedade foi clara: não podemos continuar assim, queremos chegar em casa independentemente das condições em que estivermos, bêbadas ou o que for", comentou com a AFP Laura Berro, membro do Conselho Municipal de Pamplona.

- Conscientização -A conscientização sobre os abusos sexuais, porém, vem de antes do caso de "La Manada".

Em 2013, as imagens de mulheres no meio da multidão, com o peito nu e sendo apalpadas por homens causaram impacto.

Até então, afirma Laura Berro, havia um "discurso muito atrasado" que consistia em justificar "que os homens agressores agrediam sob o efeito do álcool", e que estas coisas aconteciam "em um contexto de festa". O resultado, acrescenta, era a impunidade.

Portanto, a cidade decidiu há cinco anos mobilizar grande meios para prevenir as agressões sexuais.

Dentro desse dispositivo, existe um número de telefone disponível 24 horas por dia para pessoas que queiram denunciar agressões. As forças de ordem contam também com câmeras de vigilância para identificar os eventuais agressores, e as associações feministas podem igualmente dar o alerta.

Desde 2004, cerca de 95% das denúncias de agressões sexuais nas festas de São Firmino foram concluídas com a identificação do autor, segundo um estudo da Universidade Pública de Navarra, apresentado no início de julho.

"Nos últimos dois anos, houve um aumento significativo das denúncias. É porque houve mais agressões e abusos? Não. É porque se denunciou mais", aponta Paz Francés, jurista e autora do estudo.

Além disso, foi criado um centro de informações em uma praça central da cidade para sensibilizar os participantes e contabilizar os casos que não tenham terminado em denúncias na delegacia.

Na segunda-feira, antes do início das festas, centenas de feministas se concentraram em Pamplona em homenagem a Nagore Laffage, uma enfermeira morta há 10 anos em São Firmino pelas mãos de um homem com quem se recusou a ter relações sexuais.

"As pessoas já há alguns anos vêm muito conscientizadas, porque foram amplificadas estas ideias feministas, e aos poucos estão acontecendo mudanças muito importantes, muito profundas", resume Laura Berro.