Museu de Londres desconstrói lendária personalidade de Frida Kahlo
O Museu Victoria e Albert de Londres reúne, em uma magnífica exposição sobre a pintora mexicana Frida Kahlo, seus vestidos, pinturas e objetos tão pessoais quanto sua perna protética, que ajudam a entender uma personalidade que exerce seu fascínio até hoje.
"Frida Kahlo: Making Her Self Up" ("Inventando-se", em tradução livre) será inaugurada neste sábado (16) e ficará aberta até 4 de novembro.
Nela, estarão expostos mais de 200 objetos da Casa Azul, estúdio e moradia de infância da pintora, no bairro de Coyoacán, na capital, e onde ela faleceu em 1954, aos 47 anos.
Foi essa casa que serviu de abrigo durante dois anos para o revolucionário russo Leon Trotski, com quem Frida teve um caso breve.
Na mostra, há vestidos, joias, cartas, pinturas, fotos de família, maquiagem, medicamentos e até sua prótese.
"Essa perna é muito moderna e superbonita. Tem uma bota vermelha. Frida colocou nela retalhos de bordados chineses e até um guizo para que fosse mais evidente. Por que seria uma perna feia, se ela era uma artista?", disse à AFP a mexicana Circe Henestrosa, curadora da exposição junto com Claire Wilcox.
Uma vida atormentada pelo corpo
Os problemas de saúde de Frida Kahlo foram devastadores, mas a pintora soube fazer da adversidade uma virtude.
Esta filha de um fotógrafo alemão e de uma mexicana teve poliomelite na infância e, como resultado, ficou com a perna direita mais curta, uma extremidade que acabaria sendo amputada em 1953, um ano antes de sua morte.
Quando tinha 18 anos, o ônibus, no qual voltava da escola preparatória com um companheiro, sofreu um acidente. Nesse episódio, um pedaço de aço atravessou seu abdômen, atingindo sua coluna em três pontos, além de quebrar a clavícula, duas costelas, a perna em onze pontos e a bacia em três. Seus órgãos reprodutores também foram atingidos, o que a impediu de ter filhos.
Perdeu-se uma estudante de Medicina, mas se ganhou uma artista, porque ela começou a pintar durante sua longa convalescença. Com a ajuda de um cavalete especial, ela podia pintar da cama, usando um espelho que lhe permitia usar a si mesma como modelo.
"É o início da carreira de uma grande artista, mas também da deterioração de seu corpo", explicou a curadora Circe Henestrosa, que organizou, em 2012, na Casa Azul uma exposição sobre os vestidos.
Lição de Frida: 'está tudo bem ser diferente'
A tia de Henestrosa era parte do círculo intelectual da pintora e "levava para ela esses 'huipiles' da região do Istmo de Tehuantepec", no estado de Oaxaca, ao sul do país, lembrou.
O "huipil" é uma blusa, ou vestido, indígena mexicano, geralmente de cores vivas e enfeitado com bordados.
Com ele, Frida Kahlo "queria demonstrar seus valores mexicanos, queria se ver muito mexicana", em uma época, imediatamente posterior à Revolução, na qual o país busca reforçar sua identidade no indigenismo. Além disso, "ela era comunista, e isso a faz parecer mais do povo", acrescentou a curadora.
As questões políticas não explicam, porém, toda a questão de sua indumentária.
"Começa a usar saias longas para disfarçar a perna. É a primeira vez que começa a estabelecer uma relação entre seu corpo e sua indumentária", contou a curadora, lembrando que o "huipil" atrai os olhares para o colo.
"Essa é a parte que queremos mostrar na exposição: Frida a pessoa, Frida a mulher, uma pessoa que gostava de perfume, que era incrivelmente feminina, que não deixou que a deficiência a definisse. Uma artista mexicana, de pele morena, deficiente, que sirva de modelo para as garotas jovens: ser diferente é algo incrível, está tudo bem ser diferente".
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