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Jornalista russo crítico do Kremlin está vivo; morte foi encenada pela Ucrânia

30/05/2018 13h14

Kiev, 30 Mai 2018 (AFP) - O jornalista russo crítico do Kremlin Arkadi Babchenko, cuja morte foi anunciada pelas autoridades ucranianas na terça-feira, está vivo e apareceu para jornalistas nesta quarta-feira.

Kiev explicou que encenou sua morte para frustrar seu assassinato encomendado pela Rússia.

Em uma reviravolta improvável, este ex-soldado russo que se tornou repórter de guerra, exilado em Kiev, onde disse ser regularmente ameaçado, apareceu na frente das câmeras e explicou que ele próprio participou da encenação como parte de uma "operação especial" preparada há dois meses.

Sua aparição foi recebida com aplausos e exclamações de incredulidade por seus colegas.

"Eu realmente gostaria de agradecer aos Serviços de Segurança da Ucrânia por terem salvado minha vida", declarou. "Gostaria de pedir desculpas à minha esposa pelo inferno que ela viveu por dois dias".

As forças de segurança ucranianas, no entanto, asseguraram que sua família estava ciente da operação, que visava frustrar uma tentativa de assassinato pela qual um homem apresentado como o "organizador" foi preso.

"Graças a essa operação, conseguimos frustrar uma provocação cínica e documentar os preparativos para esse crime pelos serviços especiais russos", declarou o chefe dos serviços de segurança ucranianos (SUB), Vassyl Grytsak.

- Um detido -"Prendemos o organizador deste crime três horas atrás, em Kiev", acrescentou Grytsak, explicando que o homem havia recebido 40.000 dólares dos "serviços especiais russos" para preparar o assassinato.

O anúncio da morte de Arkady Babchenko, crítico ferrenho do Kremlin, exilado em Kiev depois de ser ameaçado na Rússia, causou grande comoção na Ucrânia e na Rússia.

Na terça-feira à noite, a polícia anunciou que o repórter de 41 anos havia sido baleado várias vezes nas costas ao chegar ao seu apartamento em Kiev.

O primeiro-ministro ucraniano, Volodymyr Groisman, imediatamente apontou "a máquina totalitária russa".

O diretor dos Serviços de Segurança Russos (FSB), Alexander Bortnikov, descreveu as acusações da Ucrânia como "absurdas" e "provocativas". O Kremlin "condenou veementemente" o assassinato e disse "esperar uma verdadeira investigação".

Babchenko afirma que tem sido ameaçado desde que passou a denunciar o papel da Rússia no conflito no leste da Ucrânia.

Em 20 de julho de 2016, um colega, o russo-bielorrusso Pavel Sheremet morreu na explosão de uma bomba colocada debaixo de seu carro em Kiev, um caso que ainda não foi esclarecido.

Após o anúncio do assassinato de Arkady Babchenko, a União Europeia pediu uma "investigação rápida e transparente" para punir os responsáveis.

- Simulação 'dolorosa' -A ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF), que havia instado a Ucrânia e a Rússia a "cooperarem" para esclarecer esse "ato desprezível" em vez de "se envolver em uma perigosa guerra de informações", condenou nesta quarta-feira uma simulação "dolorosa".

Esta manhã, dezenas de jornalistas se reuniram em frente à embaixada russa. Outra mobilização estava prevista para a noite na praça central de Kiev.

Arkady Babchenko participou nas duas guerras da Chechênia como soldado antes de se tornar um jornalista muito crítico contra o Kremlin.

Ele havia relatado sua experiência nas guerras nesta república russa do Cáucaso em um livro, "One Soldier's War".

Antes de deixar Moscou, trabalhou para o jornal Novaya Gazeta e para a rádio Echo de Moscou, dois meios de comunicação críticos do Kremlin.

Arkady Babchenko também cobriu o conflito no leste da Ucrânia entre as forças ucranianas e separatistas pró-russos. Ele denunciou o papel da Rússia, apoiando a tese de Kiev e dos ocidentais segundo a qual Moscou apoia militarmente os rebeldes.

O jornalista deixou a Rússia em fevereiro de 2017 denunciando uma campanha de "assédio". Ele primeiro morou na República Tcheca e em Israel, antes de se estabelecer em Kiev, onde apresentava um programa de televisão.

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