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Presença militar do Irã na Síria faz sucesso em cinemas de Teerã

16/05/2018 16h22

Teerã, 16 Mai 2018 (AFP) -

A presença militar do Irã na Síria desperta temores no Ocidente e em Israel, mas em Teerã um filme de ficção centrado na luta contra os extremistas islâmicos travada por dois iranianos no país em guerra faz sucesso nos cinemas.

O filme "Bé Vaght-é Cham" ("O momento de Damasco") estreou por ocasião do Noruz, o Ano Novo persa, celebrado em 21 de março, e após sete semanas em cartaz, atraiu 1.388.700 espectadores, o que o situa em segundo lugar da bilheteria iraniana, atrás de um drama sobre vítimas da prostituição, segundo cifras mais recentes do site cinematicket.org.

Com orçamento de 100 bilhões de rials (dois milhões de euros), o longa-metragem já arrecadou 113.000 bilhões de rials (cerca de 2,3 milhões de euros).

Rodado na Síria e no Irã e repleto de efeitos especiais, o filme dirigido por Ebrahim Hatamikia se passa em um ritmo entrecortado e conta a história de um pai e seu filho, ambos pilotos militares iranianos que lutam contra o grupo extremista Estado Islâmico (EI) na Síria.

Além dos ataques atrozes cometidos no Iraque e na Síria, e sua participação em atentados na Europa, o EI também reivindicou ataques em Teerã, no qual morreram 17 pessoas em junho de 2017.

Com um desenlace do sacrifício e de atos heroicos perante o Estado Islâmico, o filme chegou inclusive a levar às lágrimas o ministro de Relações Exteriores iraniano, Mohamad Javad Zarif, reportaram veículos de comunicação locais.

"Me parece que o filme dá uma imagem do que está acontecendo na região mais próxima da realidade que aquilo que mostram os veículos de comunicação estrangeiros", declarou à AFP o estudante Shahabi, na saída de uma das salas de exibição de Teerã.

E é que o compromisso iraniano na Síria é hoje "o tema do momento no mundo inteiro", acrescentou.

- "Crimes" do EI -Teerã enviou à Síria milhares de combatentes "voluntários" iranianos e afegãos e "conselheiros militares" egressos do exército regular, mas também forças de elite, como a dos Guardiães da Revolução, para lutar ao lado das forças do regime de Bashar Al Assad, tanto contra os rebeldes quanto os jihadistas.

No entanto, esta presença iraniana quase não se reflete no filme, que se concentra nos dois personagens principais.

As câmeras se concentram em mostrar os "crimes do Daesh (acrônimo em árabe do EI)", explicou o diretor, conhecido através de filmes sobre a guerra entre o Irã e o Iraque (1980-1988).

O diretor Ebrahim Hatamikia recebeu a AFP no centro cultural Ouj, em Teerã. Esta instituição, que produziu seu filme, é financiada pelos Guardiães da Revolução.

Com este filme, "quis mostrar a realidade ao máximo possível", explicou Hatamikia.

"Não é um filme político, é um filme humano e humanitário. De um lado, há assassinos, e do outro, aqueles que ajudaram a que haja menos assassinatos. Essa é a história", resumiu o diretor.

"Enquanto os Estados Unidos se vangloriam constantemente de que seus soldados desembarcaram na Normandia para salvar a Humanidade [durante a Segunda Guerra Mundial], o mesmo aconteceu no Oriente Médio, onde quisemos ajudar pessoas que têm a mesma religião e a mesma cultura que nós", acrescentou.

Estados Unidos, Europa e Israel têm outra percepção e consideram o compromisso iraniano na Síria um fator de "desestabilização" regional. Israel, que afirma ter atacado na quinta-feira dezenas de alvos "iranianos" na Síria, descreve o Irã como uma ameaça à sua existência.

- "Defender o regime" -O Irã insiste em que está intervindo na Síria "a pedido das autoridades legítimas".

"Me considero um muçulmano crente e quero apresentar minha visão como muçulmano", disse Hatamikia. "Na nossa frente está o Daesh, que também levanta a bandeira do islã", mas que é um "desvio (...) satânico", acrescentou.

Hatamikia, que não esconde sua "defesa do regime", deixou escapar que "lamenta realmente a decisão" das autoridades iranianas de ter proibido seu colega, Jafar Panahi, convidado este ano ao Festival de Cannes, de trabalhar no Irã e sair do país.

Depois do sucesso no Irã, "Bé Vaght-é Cham" busca chegar a outros mercados e, segundo seus produtores, já asseguraram a distribuição em Japão, Coreia do Sul, Líbano e Polônia.

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