Governo Correa montou caro dispositivo de espionagem a serviço de Assange
Londres, 16 Mai 2018 (AFP) - O governo equatoriano de Rafael Correa organizou um caro sistema de espionagem para proteger e dar apoio a Julian Assange, "o hóspede" que acabou, por sua vez, intervindo nas comunicações da embaixada en Londres, revelou o jornal "The Guardian" nesta quarta-feira (16).
Segundo documentos obtidos pelo jornal britânico em sua investigação com Focus Ecuador, o governo de Correa pôs 5 milhões de dólares a serviço desse dispositivo, do qual participou a Secretaria Nacional de Inteligência (Senain) - depois suprimida pelo sucessor de Correa, Lenin Moreno - e uma empresa de segurança que vigiava os visitantes de Assange, o pessoal da embaixada e a Polícia britânica.
O dispositivo, cuja existência era ignorada pelo embaixador da época, Juan Falconí Puig, foi batizado primeiro como "Operação Hóspede" e, depois, como "Operação Hotel".
Em sua conta no Twitter, o WikiLeaks - a organização fundada por Assange - chamou a informação do "Guardian" de "libelo na linha da atual ofensiva dos governos do Reino Unido e dos Estados Unidos contra Assange", negou que Assange invadisse o sistema informático da embaixada e anunciou que processará o jornal.
O atual presidente Lenin Moreno considera "um problema herdado" a presença de Assange, e esta investigação pode lhe dar novos argumentos.
O jornal britânico alega que Assange acabou criando seu próprio acesso à Internet por satélite, conseguindo burlar o firewall do sistema da missão diplomática. Isso lhe deu a possibilidade de vigiar as comunicações oficiais e pessoais do funcionários.
O "Guardian" afirma ainda que a existência do registro detalhado de visitantes da embaixada pode ajudar a descobrir quem deu a Assange os e-mails da campanha democrata americana de Hillary Clinton, uma informação que certamente vai interessar ao procurador especial Robert Mueller. Ele investiga a possível interferência russa nas eleições americanas de 2016.
Todo o mês, Correa recebia essa lista de visitas. Segundo o jornal, o então ministro das Relações Exteriores, Ricardo Patiño, também aprovou a operação.
O criador do WikiLeaks, de 46 anos, refugiou em 2012 na missão equatoriana em Londres para evitar ser extraditado para a Suécia, que o reivindicava por denúncias de crimes sexuais. Ele nega.
Assange teme deixar a embaixada equatoriana, ser detido e acabar extraditado para os Estados Unidos por ter divulgado milhares de documentos sigilosos do país.
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