Morre escritor Tom Wolfe, pai do 'novo jornalismo'
Nova York, 15 Mai 2018 (AFP) -
O escritor e jornalista americano Tom Wolfe, pai do "novo jornalismo" e autor do célebre romance "A fogueira das vaidades", faleceu em Nova York, na segunda-feira (14), aos 88 anos - informou a imprensa americana.
"Ficamos profundamente tristes ao saber da morte de Tom Wolfe. Ele foi um dos grandes nomes e suas palavras viverão para sempre", indicou a editora Picador, da MacmillanPublishers.
Desde a década de 1960, o escritor de rosto eternamente juvenil famoso por seus impecáveis trajes inovou ao usar técnicas de romance em seus artigos jornalísticos, contribuindo para criar a corrente conhecida como "novo jornalismo".
Seu agente Lynn Nesbit disse à imprensa americana que Wolfe morreu depois de ser hospitalizado em Nova York em razão de uma infecção.
Nascido em 2 de março de 1930 em Richmond (Virgínia), mas vivendo em Nova York desde que começou a trabalhar no The New York Herald Tribune, em 1962, escreveu inúmeros artigos e ensaios para revistas como New York, Esquire e Harper's, brilhando pela criatividade para descrever a cultura pop e o narcisismo da sociedade americana.
Alguns de seus ensaios para Esquire, onde Wolfe tinha liberdade para aplicar suas técnicas de escrita experimentais, foram reunidos no livro "The Kandy-Kolored Tangerine-Flake Streamline Baby", de 1965, um clássico da literatura americana de não-ficção.
Seu famoso e primeiro romance, "A Fogueira das Vaidades" (1987), uma sátira sobre os excessos dos anos 80 em que o protagonista, um ganancioso banqueiro de Wall Street, atropela com seu carro um afro-americano do Bronx e foge, foi publicado pela primeira vez em capítulos pela revista Rolling Stone.
Durante sua prolífica carreira, Wolfe dedicou sua pena a descrever a cultura pop, o movimento hippie, o mundo da arte, as relações raciais e o universo de Wall Street.
Mas talvez ele seja mais conhecido por seu best-seller de não ficção "Os Eleitos", sobre o programa espacial americano e os astronautas originais do projeto Mercury.
O livro de 1979 virou um filme de sucesso em Hollywood, estrelado por Sam Shepard e Ed Harris e tornou famoso o piloto de testes Chuck Yeager, o primeiro homem a romper a barreira do som.
Entre as pessoas que homenagearam a memória de Wolfe nesta terça-feira estava o astronauta americano Scott Kelly.
"Ele mudou a minha vida e sou grato por ter podido agradecer a ele pelo sonho selvagemente irrealista que ele me deu quando era um garoto de 18 anos", tuitou Kelly.
- Novo jornalismo -Formado em civilização americana, começou no jornalismo no Springfield Union, um jornal de Massachusetts, em 1956. Dois anos depois, ingressou no The Washington Post como correspondente em Havana, e depois na capital americana.
Pediu demissão em 1962 e se mudou para Nova York para trabalhar como freelancer. Foi enviado para a Califórnia pela revista Esquire para fazer uma reportagem sobre os fãs de automóveis que reconstroem seus carros.
Entusiasmado pelo tema, sofreu com a "síndrome da página em branco" quando precisou escrever a matéria. O chefe de redação da Esquire pediu-lhe, então, que descrevesse em uma carta o que viu para poder usar como matéria-prima.
Livre da pressão, escreveu 49 páginas... E encontrou seu estilo.
A reportagem acabou virando um romance curto, intitulado "The Kandy-Kolored Tangerine-Flake Streamline Baby", de 1965. O livro conta com uma apresentação dos personagens, uma multiplicidade de pontos de vista, trechos de diálogos intercalados entre as descrições, onomatopeias e muitas exclamações.
Estava lançada sua carreira de escritor. Dezoito meses depois, virou a figura central do "novo jornalismo", um gênero híbrido sob o qual se encontravam mais ou menos ao seu agrado Hunter S. Thompson, Norman Mailer e Truman Capote.
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