Topo

Cannes recebe 'Petra', tragédia grega com ascendente Bárbara Lennie

10/05/2018 18h20

Cannes, França, 10 Mai 2018 (AFP) - A humilhação ao próximo, "muito característica dos espanhóis", segundo o diretor Jaime Rosales, é veiculada em seu filme "Petra", apresentado nesta quinta-feira (10) em Cannes e protagonizado pela atriz em ascensão Bárbara Lennie.

"É um filme de uma beleza incomum. Não se entende porque não faz parte da competição oficial" pela Palma de Ouro, disse sobre "Petra" Édouard Waintrop, delegado-geral da Quinzena dos Realizadores, seção independente do Festival de Cannes que selecionou o último trabalho de Rosales ("La soledad", "Sueño y silencio").

Bárbara Lennie, em Cannes também por ter atuado em "Todos lo saben", que concorre ao prêmio principal, encarna Petra, uma jovem artista que em sua busca desesperada para saber quem é seu progenitor, entra em uma família abastada que reside no campo e vive atormentada pela figura maquiavélica do pai.

Este vilão, incapaz de suportar a felicidade do próximo, forçará o destino fatídico de seus familiares.

Nesta tragédia grega falada em espanhol e catalão, filmada entre a serra de Madri e o campo da província de Girona (nordeste), atuam também Marisa Paredes e Álex Brendemühl.

Ao longo do filme, Rosales empurra para além dos limites suportáveis a crueldade da humilhação, "algo que não acontece tanto em outros países como na Espanha", disse à AFP.

"Os estrangeiros, sobretudo aos anglo-saxões, se surpreendem com o fato de que quando vivemos um conflito e chega o momento da reconciliação, surja uma necessidade de um bando de humilhar o outro".

"Se vamos fazer as pazes, que sejam verdadeiras", defende.

Não é por acaso que um dos protagonistas, Lucas (Brendemühl), seja um fotógrafo trabalhando nas valas comuns das vítimas do franquismo.

"Este era inclusive um pilar do filme quando comecei, mas no fim das contas ficou como algo periférico". "É que temos muita dificuldade de resolver nossos problemas do passado", insiste.

Em "Petra", Rosales ignora o tempo, seccionando a trama em capítulos desordenados e anunciando ao espectador o que virá.

"Busquei um híbrido entre o cinema clássico - com atores conhecidos e elementos de suspense - e o moderno, que me fascina, com intérpretes não profissionais e utilizando a câmera e a música de forma não convencional", disse.

O resultado foi recebido com aplausos do público, deixando Rosales com uma agradável sensação de alívio após quatro anos de trabalho: "É o que mais me importa, como vai ser a acolhida do público".