Quimono se reinventa para sobreviver
Tóquio, 4 Mai 2018 (AFP) -
Sob a luz, Yuichi Hirose desenha com tinta azul sobre um tecido fino, com o qual enfeitará um quimono, a tradicional túnica japonesa que tenta sobreviver em uma indústria em declínio.
Em um centenário ateliê de um bairro de Tóquio, esse artesão de 39 anos repete incansavelmente os mesmos gestos, transmitidos de pai para filho. É a quarta geração de sua família a se dedicar a este ofício, mas, agora, os tempos são menos prósperos do que no passado.
O mercado do quimono caiu para 278,5 bilhões de ienes em 2016 (2,5 bilhões de dólares), segundo estudo do instituto de pesquisa Yano, após alcançar 1,8 trilhão de ienes (quase 16,6 bilhões de dólares) em 1975.
O quimono, uma palavra que significa literalmente "algo para se pôr", "tornou-se uma veste muito distante da nossa vida diária", reconhece Hirose.
É preciso "imaginar novos grafismos", criar novas ocasiões, menos formais, para usá-los, como, por exemplo, para ir "a um concerto, ou ao teatro", completou.
Atualmente, está reservado a eventos importantes, como casamentos, ou ritos tradicionais, como o dia da transição da adolescência para a idade adulta, celebrada em janeiro pelos jovens de 20 anos.
- Caríssimos -E, mesmo para essas ocasiões, poucos compram um quimono, devido aos preços proibitivos, que podem chegar a milhares de euros. Muitos preferem alugá-los, ou pedir emprestado a familiares.
Para Takatoshi Yajima, vice-presidente da associação japonesa de promoção de quimonos, a indústria deve se adaptar para frear a queda do volume de negócio.
Os profissionais do setor "continuaram vendendo seus produtos sem baixar os preços", concentrando-se em modelos de seda muito sofisticados, lamenta Yajima.
Ele é a favor, pelo contrário, de se estabelecer as bases "para que mais pessoas possam comprar quimonos". Sua empresa comercializa túnicas mais acessíveis, de algodão, ou de linho, e funciona: os que custam menos de 100.000 ienes (900 dólares) representaram em 2016 quase 60% das vendas, em comparação com 25%, em 2000.
Além de preços mais convidativos, também é hora de rejuvenescer a peça, defende Jotaro Saito, que apresentou em março sua coleção na Tokyo Fashion Week.
"Não saíram de moda (...) e usá-los é divertido", diz este estilista que testa novas fórmulas.
- 'Experiência única' -
Para dar um novo impulso a estas vestes tradicionais, Kahori Ochi encontrou outra solução: um serviço de aluguel de quimonos para turistas.
Esta japonesa de 42 anos estudou de perto a evolução do setor. Seus pais tinham uma loja de quimonos, em Saitama (norte de Tóquio).
"Quando eu era pequena, não paravam de trabalhar, e tínhamos dinheiro. Depois, explodiu a bolha financeira e complicou", conta ela.
"Minha mãe teve de se resignar a vender quimonos de segunda mão (...) Foi uma boa decisão. Nós sobrevivemos, e outros fecharam", relata Ochi.
"Me parecia que não estava na moda e, além disso, não era nada prático", reconheceu, com um sorriso.
Depois de uma viagem à Noruega, porém, onde sair vestida de quimono causa sensação, ela mudou de ideia e decidiu apoiar sua mãe.
"Ela se surpreendeu e me disse: 'você não vai ter salário!'", lembra Kahori Ochi.
Agora, sua loja no bairro da moda de Harajuku atrai "uns 500 clientes por ano", que os alugam por 9.000 ienes (81 dólares) por algumas horas.
"É uma experiência única", descreve Ruby Francisco, uma holandesa de 33 anos, encantada com poder posar com um quimono verde-claro sob cerejeiras em flor. Para ela, é a própria essência "da elegância".
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