DNA, um desafio a mais no espinhoso problema da proteção de dados
Los Angeles, 2 Mai 2018 (AFP) -
A prisão recente do "Golden State Killer" (assassino do estado Dourado, como a Califórnia é chamada) graças aos bancos de DNA de um site genealógico aumenta a dimensão do desafio da proteção de dados pessoais.
Joseph James DeAngelo é um ex-policial de 72 anos, suspeito de ser o autor de 12 assassinatos e ao menos 50 estupros nas décadas de 1970 e 1980 na Califórnia. Foi identificado pelas coincidências encontradas entre seu perfil genético e o de um membro distante de sua família, registrado em um banco de dados da empresa GEDmatch, de acesso público.
A utilização por parte da polícia desses dados genéticos mostra que é possível acessar as informações mais confidenciais com alguns cliques. Os criminologistas já usam "big data", o leque de informações pessoais, para tentar prever quem é estatisticamente propenso a cometer delitos - com o consequente risco de fazer perfis com base racial ou socioeconômica.
"O DNA é parte do problema maior de como categorizamos as pessoas no século XXI", disse o professor Joseph Turow, da Universidade da Pensilvânia. Segundo o acadêmico, a genética é apenas uma parte das preocupações ligadas à biometria. "O rosto, a voz, os genes, as partes do corpo são cada vez mais usados como identificadores".
Após a estatística, a segmentação, a seleção, os perfis psicodemográficos, agora se usa a detecção personalizada para prever comportamentos, aponta o especialista, que destaca o risco de discriminação - positiva, quando se tenta obter um desconto ou um tratamento VIP segundo os hábitos de consumo, ou negativa (sobretaxas, negativas de serviços) quando se considera que o perfil é o de um mau cliente.
"O que acontecerá se um exame de DNA torna alguém não-assegurável?", questiona Turow, apontando que os familiares mais próximos ou membros distantes de sua família poderão ter problemas para contratar um seguro ou obter um trabalho.
"Não é possível separar os dados de marketing dos dados de governo", adverte.
Todas as informações na internet são vulneráveis, com frequência obtidas de forma ilegal ou dissimulada, como demonstraram os muitos roubos informáticos a gigantes bancários ou de grupos de distribuição, os escândalos de utilização de dados do Facebook ou Google pela Agência de segurança nacional (NSA) americana e pela Cambridge Analytica.
- "Escolher seu veneno" -O aplicativo de contatos para homossexuais Grinder difundiu, assim, informações sobre HIV de seus membros sem o consentimento destes.
Por sua vez, os motores de busca como Google ou Yahoo! registram nossas consultas na internet e nossos e-mails. As redes sociais como Facebook inventariam todas as nossas relações e fotos, e os celulares armazenam nossas mensagens, nos geolocalizam e nos escutam graças a ferramentas de controle auditivo.
"Se você usa seu telefone como GPS (...), este registra sua forma de dirigir. Vamos supor que aconteça um acidente, quem possui esses dados, a polícia pode pedi-los? O bêbado que bateu em seu carro pode usá-los contra você, dizendo que você sempre dirigia rápido demais?", aponta Ken Birman, professor de informática da Universidade de Cornell.
"É tempo de pôr a proteção da vida privada dos consumidores antes da avidez das empresas", afirma Michael Copps, ex-membro da Comissão federal de comunicações (FCC), em uma nota publicada no USA Today.
"As empresas deveriam dar informações claras sobre quais dados recolhem e como serão utilizados", acrescenta.
O especialista exorta o Congresso americano a se inspirar na nova regulamentação europeia: os sites da internet não podem enterrar em uma nota ininteligível no pé da página o uso que fazem dos dados dos usuários, e estes devem poder retirar seu consentimento "tão facilmente como o deram", sob pena de multas dissuasivas.
Mas Turow é cético: os gigantes informáticos farão todo o possível para evadir os condicionamentos, enquanto uma maioria dos americanos "se resigna a fornecer seus dados".
Cada vez mais, será necessário que cada um "escolha seu veneno" entre "Google, Amazon ou Facebook", conclui, fatalista.
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