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Arte compartilhada: quadro de Picasso é adquirido por 25 mil pessoas na Suíça

Quadro de Picasso adquirido por milhares de pessoas - Harold Cunningham/AFP
Quadro de Picasso adquirido por milhares de pessoas Imagem: Harold Cunningham/AFP

27/04/2018 17h38

Eles não podem pendurá-lo na sala de estar, mas pertence a cada um. Vinte e cinco mil internautas, que compraram em conjunto um Picasso mediante uma plataforma suíça de compras coletivas puderam contemplar a obra pela primeira vez nesta sexta (27), em Genebra.

Geralmente, os usuários do site de compras suíço Qoqa costumam procurar furadeiras, malas ou viagens a Marrakech a preços atrativos. Mas, em dezembro, a plataforma, lançada em 2005 com o slogan "Fazemos qualquer coisa, mas fazemos por você", disponibilizou o quadro de Picasso "Buste de Mousquetaire" (Busto de Mosqueteiro) por 2 milhões de francos suíços (cerca de 1,7 milhão de euros).

Em três dias, 25 mil pessoas adquiriram os 40 mil lotes disponibilizados a 50 francos suíços (42 euros) cada um, tornando-se oficialmente os felizes proprietários da tela que tem dimensões de 58 cm x 28,5 cm.

"A ideia da Qoqa, a princípio, era fazer muito 'barulho' para que as pessoas falassem da empresa, mas também democratizar o mundo da arte, que muitas vezes é visto como "fechado e obscuro", declarou à agência France Press Pascal Meyer, diretor-executivo e fundador da plataforma.

Proprietária observa a obra - Harold Cunningham/AFP - Harold Cunningham/AFP
Proprietária observa a obra
Imagem: Harold Cunningham/AFP

"Quando lançamos a ideia, nos disseram: 'esqueçam, é simplesmente impossível'", conta ele na sede de sua empresa, nos arredores de Lausanne.

"Depois, quando começamos a falar de Picasso, nos disseram: 'agora é duplamente impossível'. Assim, o desafio se tornou muito divertido, e dissemos que tínhamos que tentar democratizar um pouco esse mundo, que parece inacessível para pessoas comuns;"

A empresa contratou especialistas para certificar "a autenticidade da peça" e "assegurar que pagássemos o preço correto", conta Meyer, que não quis dizer quanto a Qoqa pagou "a um proprietário europeu" pela tela.

'Um por todos e todos por um'

Como que cumprindo o lema do mosqueteiro retratado no quadro -"Um por todos e todos por um", a partir de agora dependerá dessa grande comunidade de proprietários cuidar do destino da obra e decidir, por exemplo, onde será exposta.

O Museu de Arte Moderna e Contemporânea de Genebra (Mamco) será a primeira instituição a exibi-lo, a partir desta sexta (27). A iniciativa seduziu o diretor do museu, Lionel Bovier.

Para o Mamco, que tem fama de expor arte elitista, associar-se dessa forma à plataforma de compra supõe, em parte, abrir um pouco mais suas portas.

Proprietários receberam cartão que dá acesso ao quadro de Picasso - Harold Cunningham/AFP - Harold Cunningham/AFP
Proprietários receberam cartão que dá acesso ao quadro de Picasso
Imagem: Harold Cunningham/AFP

"O principal interesse para nós reside na forma de desenvolvimento de público. Ou seja, de ter contato, de nos dirigirmos a esse público que se tornou proprietário coletivamente do quadro", explicou Bovier à AFP.

"Esperamos receber o maior número possível de proprietários dessa comunidade de 25 mil pessoas."

Os proprietários, que possuem um cartão numerado e estampado com uma reprodução da obra, poderão ir ao local para admirar sua obra gratuitamente.

Bovier também deseja usar a experiência da Qoqa nas tecnologias digitais para exibir o quadro de forma original.

Nesse sentido, está prevista uma interação com o público pela "PiQasso", uma plataforma dedicada à peça do portal Qoqa via webcam.

"Também será feito com um escâner 3D da obra para que as pessoas possam passear por dentro dela. Enfim, pequenas coisas que fazem disso tudo algo um pouco mais interessante e menos tedioso, se me permite dizer", destacou Meyer.

O museu irá propor  ainda "encontros", "atividades" e "conferências sobre o quadro, Picasso, e também sobre o trabalho de conservação que os museus realizam, especialmente para obras deste tipo", salientou Bovier.

A tela ficará em Genebra até outubro. Depois, os internautas terão de votar para decidir seu próximo destino.