Começa inspeção de mausoléu de Franco para exumações de vítimas
Madri, 23 Abr 2018 (AFP) - Especialistas começaram a inspecionar nesta segunda-feira (23) o mausoléu de Francisco Franco, nos preparativos para as primeiras exumações de vítimas da Guerra Civil espanhola enterradas ali, ordenadas pela Justiça, mais de 40 anos após a morte do ditador.
Os técnicos devem verificar se é possível recuperar os restos de duas vítimas, levando em conta o estado da estrutura e das ossadas, muito mal conservadas e misturadas.
"É um fato histórico, os técnicos entraram, parece que algo será conquistado", afirmou por telefone à AFP Purificación Lapeña, neta de um combatente republicano, da entrada do mausoléu do Valle de los Caídos (norte de Madri).
Lapeña pede a exumação de seu avô e de seu tio-avô, Manuel e Antonio Ramiro Lapeña Altabas.
Em 1936, os dois militantes anarquistas foram fuzilados e enterrados em uma fosse comum em Aragón, no norte da Espanha.
Em 1959, seus restos foram secretamente transferidos ao faraônico mausoléu que Franco mandou construir a 50 km de Madri, na serra de Guadarrama.
Vencedor da Guerra Civil (1935-1939) e chefe de Estado desde então, até 1975, Franco ordenou, em nome de uma pretensa "reconciliação" nacional transferir para este local os restos de mais de 30 mil vítimas do conflito - franquistas e republicanos -, em muitos casos sem o consentimento de suas famílias.
Franco reservou para si mesmo o melhor lugar: quando morreu, em 1975, foi enterrado perto do altar da basílica, ao pé de uma cruz de pedra de cerca de 150 metros.
Após anos de batalha judicial, a família Lapeña conseguiu, em 2016, uma vitória quando um tribunal ordenou "a entrega dos restos cadavéricos dos irmãos Lapeña Altabás a sua familiar (...) a fim de lhes dar sepultura digna".
Desde então, o padre beneditino que dirige a abadia e a basílica bloqueou as exumações, impedindo a entrada de especialistas, até que a Conferência Episcopal o obrigou a cumprir a decisão judicial.
Outras duas famílias reclamaram exumações - ambas do lado franquista.
No ano passado, a maioria dos deputados do Congresso espanhol pediu ao governo conservador, sem sucesso, a retirada dos restos de Franco do mausoléu para fazer do lugar um memorial para as vítimas do conflito.
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