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Diretor de comédias de horror, Lloyd Kaufman é um cara que poucos conhecem

O cineasta Lloyd Kaufman - Divulgação
O cineasta Lloyd Kaufman Imagem: Divulgação

De Los Angeles (EUA)

22/03/2018 10h03

Com mais de 800 filmes produzidos e um recorde de lançamentos de estrelas em Hollywood, Lloyd Kaufman pode ser o maior cineasta sobre o qual a maioria das pessoas jamais ouviu falar.

Aos 72 anos, o cofundador da Troma Entertainment - o estúdio de cinema independente mais antigo do mundo - ocupa há meio século o posto de "enfant terrible" da comédia de horror, um Abbott e Costello para uma audiência que deseja coisas asquerosas.

Seu catálogo inclui pérolas sórdidas e sanguinárias como "O Vingador Tóxico" - apontado como sua obra-prima -, "Surfistas Nazistas Devem Morrer", "Poultrygeist: A Noite dos Frangos Mortos" e "Tromeu e Julieta".

A AFP conversou com Kaufman em Los Angeles sobre a estreia de sua produção mais recente: "Return to Return to Nuke 'Em High: AKA Vol. 2".

Embora seus filmes não registrem lucro desde os anos 1990, são parte da cultura americana e ainda são exibidos em pequenos cinemas, voltados para as produções independentes, e universidades.

"A Troma deixou uma grande marca na indústria, mas não somos tão conhecidos", lamenta Kaufman, que descreve o estúdio que fundou com o amigo de universidade Michael Herz como "o jalapenho em uma pizza cultural".

Sua filmografia não chega nem perto do politicamente correto e está mais para uma caixa de Pandora de canibalismo, substâncias radioativas, fluidos corporais e seios falso, sem mencionar os estereótipos raciais, religiosos e sexuais.

Figuras de destaque da indústria audiovisual americana deram seus primeiros passos na Troma, como os vencedores do Oscar Oliver Stone - com quem Kaufman estudou em Yale e a quem deu seu primeiro trabalho no cinema - e Kevin Costner, assim como o diretor James Gunn ("Guardiões da Galáxia" 1 e 2) e a dupla Trey Parker e Matt Stone, responsável pelo desenho "South Park".

Entre os atores que trabalharam em produções da Troma no início da carreira estão Robert De Niro, Dustin Hoffman, Vincent D'Onofrio, Samuel L. Jackson e Eli Roth.

Mas sua opinião sobre Hollywood não é das melhores: "O pequeno número de conglomerados internacionais de mídia adoradores do diabo".

"99,9% das pessoas na indústria do cinema são a escória da Terra, estúpidos, incompetentes, desonestos, o pior", afirma, antes de citar como evidência a "cultura suja" da indústria a respeito de Harvey Weinstein, que era adorado enquanto abusava sexualmente com impunidade.

"Quantas pessoas nuas apareceram em nossos filmes? Milhares. De fato, eu já apareci nu em meus filmes. Mas o ponto é que somos como 'Bambi' em comparação com o lixo da indústria convencional", disse o cineasta e produtor.

Kaufman revela que suas estrelas participam das seleções de elenco nuas, mas afirma que uma agente de casting ou outra testemunha está sempre na sala.

Mas ele não perde a oportunidade de fazer piada: o estúdio promoveu o personagem Toxie - de "O Vingador Tóxico" - com a hashtag #MeTutu, em uma clara referência ao movimento #MeToo contra os abusos sexuais em Hollywood.

"O Vingador Tóxico" - um homem que cai em um tonel de resíduos químicos para virar o primeiro super-herói de Nova Jersey - foi ignorado em seu lançamento em 1984, mas com o passar dos anos ganhou muitos fãs, de Nova York a Tóquio.

O filme inspirou três sequências, um musical, um quadrinho da Marvel, um jogo eletrônico e uma série de desenhos para crianças. E para completar a consagração, o longa-metragem deve entrar para o catálogo da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos este ano.