Os grafites e os slogans de Maio de 68
Paris, 21 Mar 2018 (AFP) - O humor e a utopia impregnaram os slogans rebeldes de Maio de 68 na França, como "É proibido proibir", "A imaginação no poder" e "Não quero perder minha vida ganhando-a", e sobreviveram à passagem do tempo.
Pintados nos muros, principalmente os do famoso Quartier Latin de Paris, sede da Universidade Sorbonne e epicentro da revolta estudantil, os grafites eram sinônimo de "liberdade", diz o jornalista Julien Besançon em um livro que compilou centenas de inscrições em Paris e na cidade próxima, Nanterre, sede de outra universidade mobilizada durante os acontecimentos.
Muitos desses grafites se transformaram em slogans e foram imortalizados por uma oficina de Belas Artes que imprimiu 600.000 cartazes entre maio e junho, pregados na capital e arredores.
A maioria de seus autores conservaram o anonimato. Mas alguns evocam sua fase criativa, como Bernard Cousin, estudante que se transformou em médico e que reivindica a copartenidade de "Sobre os paralelepípedos, a praia".
O slogan foi fruto de uma reflexão com um jovem publicitário, Bernard Fritsch, e o ponto de partida foi a frase "Há grama debaixo dos paralelepípedos".
"Fritsch me disse 'você tem que colocar a praia'. Ele gostou muito. Escreveu isso por todas as partes", explicou 30 anos mais tarde Cousin à televisão francesa.
Nos cartazes serigrafados, dominavam o branco e o preto. As imagens, estilizadas, tinham muita força, como a de um membro das Companhias Republicanas de Segurança (CRS, as forças de ordem), que levanta seu cassetete e seu escudo com a sigla nazista "SS". O slogan "CRS SS", que nasceu 20 anos antes com a repressão de greves de mineiros, encontrou um amplo eco em Maio de 68.
Um humorista criou o famoso "É proibido proibir" e causou furor.
A revolta e a recusa à autoridade foram expressas também no cartaz "Jovem, aqui está sua cédula para votar", que mostrava um pesado paralelepípedo.
Enquanto alguns slogans falavam de uma sociedade materialista, como "Metrô, trabalho, dormir", ou da impossibilidade de "apaixonar-se por uma taxa de crescimento de 5%", outros celebravam a utopia: "Sejam realistas, peçam o impossível".
"Corre camarada, o velho mundo está atrás de você" é outro exemplo.
Alguns expressavam a inquietação frente à guerra do Vietnã: "O poder está na ponta do fuzil".
Apesar de terem sido pintados rapidamente e apagados para sempre, os slogans foram tema de muitas exposições e até leilões.
Na semana passada, a casa de leilão Artcurial organizou uma venda de 500 cartazes em Paris, incluindo um que mostra uma jovem lançando um paralelepípedo proclamando "A beleza está na rua" e alcançou os 3.380 euros (4.150 dólares).
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