Criador do aplicativo que obteve dados do Facebook diz ser bode expiatório
Londres, 21 Mar 2018 (AFP) - O psicólogo que desenvolveu o aplicativo que foi usado pela empresa Cambridge Analytica para obter os dados de milhões de usuários do Facebook para fins eleitorais afirmou que o sistema era legal e estava de acordo com os termos de uso.
Aleksandr Kogan, professor de Psicologia da Universidade de Cambridge, disse à BBC que o que ele fez era "perfeitamente legal e ajustado aos termos de serviço". Ele lamenta ter sido acusado, pelor Facebook e a Cambridge Analytica, de uso ilegal de dados pessoais.
"Minha opinião é que estou sendo usado basicamente como um bode expiatório", se defendeu Kogan, que está no centro de um escândalo que provocou a queda de 9% da ação do Facebook na Bolsa de Nova York em dois dias.
"Honestamente, pensava que estávamos agindo de maneira apropriada, acreditava que fazíamos algo normal", disse o psicólogo, nascido na Moldávia e criado na Rússia até os sete anos, quando sua família se mudou para os Estados Unidos, de cordo com dados biográficos citados pelo "Varsity", um jornal de Cambridge.
O pesquisador desenvolveu o aplicativo "This is Your Digital Life" (Esta é sua vida digital).
O "This is Your Digital Life" era uma das centenas de pesquisas aparentemente inofensivas que circulam no Facebook e outras redes sociais, do tipo "Quais são as palavras mais usadas por você?".
- Cerco ao Facebook -A pesquisa de Kogan era um teste de personalidade que perguntava aos usuários se eles são extrovertidos, vingativos, se concluem os projetos que começam, se têm a tendência da preocupação ou se gostam de arte, entre várias outras coisas.
O método foi usado para reunir dados de 270.000 usuários do Facebook, mas também para obter os dados de seus "amigos" na rede social.
De acordo com um ex-funcionário da Cambridge Analytica, a empresa conseguiu dados de 50 milhões de pessoas que acabaram sendo usados para criar um programa destinado a prever e influenciar o voto dos eleitores.
Kogan foi contratado pela Cambridge Analytica, que teve entre seus fundadores Steve Bannon, que acabaria trabalhando como estrategista na campanha de Donald Trump.
Os resultados básicos obtidos com a pesquisa eram combinados com dados retirados dos perfis e amizades do Facebook para conseguir uma longa lista de características de um usuário, ao qual poderia ser enviada uma mensagem eleitoral mais ou menos sob medida - chegaram a dispor de 175.000 mensagens diferentes.
O escândalo da Cambridge Analytica, cujos diretores acreditavam ter o poder de mudar tendências eleitorais, inclusive com o planejamento de escândalos com prostitutas e subornos para arruinar a reputação de candidatos, arrastou o Facebook, cuja proteção de dados dos usuários passou a ser questionada.
Nos Estados Unidos, a Federal Trade Commission (FTC), comissão que regulamenta o comércio, iniciou uma investigação e abriu dois processos em Nova York e Massachusetts.
Os Parlamentos britânico e europeu solicitaram que o fundador e CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, explique como foi possível a utilização dos dados de seus usuários com fins eleitorais.
O tema estava na agenda de uma reunião dos responsáveis pela proteção de dados em Bruxelas, destacou a Comissão Europeia.
- Empresa conectada ao poder britânico -A rede social proibiu que a Cambridge Analytica e Aleksandr Kogan utilizem a plataforma e na terça-feira se declarou "escandalizada" por ter sido "enganada", assegurando "entender a gravidade do problema".
O interesse nas atividades de Cambridge Analytica aumentou após a exibição de reportagens do Channel 4 em que os diretores, entre eles o presidente executivo Alexander Nix, ofereciam a um jornalista que se fez passar por cliente potencial desacreditar seus rivais políticos envolvendo-os com prostitutas ou subornos.
A empresa britânica anunciou na terça-feira a suspensão de Nix "com efeito imediato, à espera de uma investigação completa e independente".
A empresa é uma filial do grupo de marketing britânico Strategic Communication Laboratories (SCL), que o jornal britânico The Times define como uma companhia "conectada à realeza, aos ricos e aos poderosos, com vínculos sociais y empresariais com o coração do Partido Conservador, a realeza e as Forças Armadas britânicas".
bur-al/acc/fp
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