Vice-premiê da Eslováquia pede demissão após homicídio de jornalista
Bratislava, 12 Mar 2018 (AFP) - O vice-primeiro-ministro e titular da pasta do Interior da Eslováquia, Robert Kalinak, anunciou sua demissão nesta segunda-feira (12), provocada pelo assassinato do jornalista Jan Kuciak, um gesto que busca ajudar a sobrevivência do governo de coalizão de Robert Fico.
"Peço demissão do posto de ministro do Interior e de vice-primeiro-ministro", anunciou Kalinak.
"Acredito que, com este gesto, contribuirei para a estabilização da situação na Eslováquia", completou.
Tanto a oposição, apoiada por grandes manifestações nas ruas, quanto o partido Most-Hid (centro-direita), que integra a coalizão de governo, solicitaram a saída de Kalinak.
A direção do Most-Hid se reunirá nas próximas horas para decidir se a renúncia do ministro do Interior é o suficiente para que permaneça no governo. Alguns analistas têm dúvidas.
"Se outro ministro designado pelo partido (do primeiro-ministro) Smer-SD assumir a pasta do Interior, para o Most-Hid pode não ser suficiente como garantia de uma investigação imparcial sobre os assassinatos", afirmou à AFP o analista Pavol Babos.
O próprio Kalinak, influente membro do Smer-SD, afirmou que apresentaria oficialmente sua demissão, após concluir as atividades em curso, sem revelar a data concreta.
Os corpos de Jan Kuciak e de sua companheira, com marcas de tiros, foram encontrados em fevereiro em sua casa de Velka Maca, a 65 quilômetros de Bratislava.
Jan Kuciak, de 27, trabalhava como repórter investigativo para o site aktuality.sk, que pertence aos grupos alemão Axel Springer e suíço Ringier.
O jornalista estava prestes a publicar uma reportagem sobre supostos vínculos entre políticos eslovacos e empresários italianos que, suspeita-se, teriam relações com a máfia calabresa, a 'Ndrangheta, que atua na Eslováquia.
"Meu principal objetivo é esclarecer os assassinatos. Devemos saber por que e quem fez isto", disse Kalinak ao explicar a demissão.
Na sexta-feira, milhares de eslovacos protestaram contra a corrupção em todo o país e pediram a renúncia do primeiro-ministro, Robert Fico, e de seu ministro do Interior.
Em Bratislava, o protesto reuniu 40.000 pessoas, segundo o jornal SME, o que representaria a maior manifestação popular no país desde a Revolução de Veludo, que provocou a queda do comunismo na Tchecoslováquia em 1989.
A crise provocou uma grande tensão entre o primeiro-ministro e o presidente da República Eslovaca, Andrej Kiska, depois que o último pediu, em 4 de março, uma reforma ministerial, ou eleições antecipadas.
Fico criticou o chefe de Estado por ter mantido uma reunião privada em setembro com o bilionário americano George Soros e afirmou que o discurso de Kiska "não foi escrito na Eslováquia".
O primeiro-ministro foi acusado pela própria ministra da Justiça, membro do Most-Hid, de "apelar aos instintos mais baixos das pessoas com teorias da conspiração".
Kiska se reuniu nesta segunda-feira com dirigentes do Most-Hid e do Partido Nacional Eslovaco (direita nacionalista), o terceiro membro da heterogênea coalizão que governa o país desde as legislativas de 2016.
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