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Dunquerque: Uma história, dois filmes, muitos erros e 14 indicações ao Oscar

Cena de "Dunkirk", novo filme de Christopher Nolan - Reprodução
Cena de "Dunkirk", novo filme de Christopher Nolan Imagem: Reprodução

Los Angeles (EUA)

28/02/2018 11h15

Dunquerque, 1940: centenas de milhares de soldados aliados estão cercados pelo poderoso exército nazista, o prognóstico não é bom e apenas um milagre permitirá a fuga... Vencer não é mais uma opção.

Na praia francesa há preocupação, incerteza e até resignação, enquanto em Londres o recém-nomeado primeiro-ministro Winston Churchill, seu gabinete de guerra e o Parlamento decidem o destino dos jovens, em um momento em que a Europa sucumbe ante Adolf Hitler.

Dois filmes contam de modo separado - e com boa dose de idealização - a histórica retirada de mais 300.000 soldados aliados desta praia na região norte da França.

"Dunkirk", de Christopher Nolan, tem o ponto de vista dos vulneráveis soldados britânicos encurralados na França, enquanto "O Destino de uma Nação", de Joe Wright, aborda o episódio com base na experiência de Churchill, que em um bunker sombrio enfrenta as pressões para negociar a paz com Hitler.

O primeiro tem um realismo visceral, enquanto o segundo é mais psicológico. "'Dunkirk' é um filme sobre a sobrevivência", afirmou Nolan à AFP em julho do ano passado.

"Fez muitas coisas erradas", disse Wright sobre Churchill ao jornal The Guardian. "Mas o que ele fez de modo correto foi resistir ao fascismo, intolerância e ódio".

Os dois filmes somam 14 indicações ao Oscar: "Dunkirk" oito, incluindo melhor filme e direção, e "O Destino de uma Nação" seis, com uma vitória praticamente certa na categoria melhor ator para Gary Oldman por sua interpretação de Churchill.

Gary Oldman em cena de "O Destino de Uma Nação" - Reprodução - Reprodução
Gary Oldman em cena de "O Destino de Uma Nação"
Imagem: Reprodução

"Guerras não são vencidas com evacuações"

O resgate foi chamado de "milagre de Dunquerque", já que o exército britânico acreditava que salvaria cerca de 30.000 soldados e terminou retirando um número 10 vezes maior de militares.

"Foi uma derrota militar com um final feliz", escreveu Michael Korda, autor do livro "Alone", sobre Churchill e Dunquerque.

O próprio Churchill afirmou pouco depois da operação que era necessário "ter muito cuidado em não designar a esta operação os atributos de vitória. Guerras não são vencidas com evacuações".

No mesmo discurso, no Parlamento, que encerra os dois filmes, ele fez a convocação: "Nós devemos lutar nas praias, nós devemos lutar nas terras de desembarque, lutaremos nos campos e nas ruas (...) Nunca nos renderemos".

O grande "milagre" de Dunquerque, destacou o historiador Max Hastings em um artigo na revista The New York Review of Books, foi que o "exército alemão pouco interferiu na retirada", embora esta fosse uma batalha que poderia significar vencer a guerra, complementou seu colega Antony Beevor.

Sobre os filmes, Beevor disse à AFP que sentiu que Nolan e Wright "não tiveram muito respeito pela verdade histórica, tentaram melhorá-la, mesmo quando não era necessário".

Beevor explicou, como exemplo, que foram os "destróieres da Marinha que retiraram a maior parte dos soldados - dois terços, segundo publicações -, e não pequenas embarcações", como o filme mostra de modo quase romântico.

Os barcos civis foram a inspiração para Nolan, que uma década antes atravessou o canal com sua esposa, a produtora Emma Thomas, e classificou a experiência de assustadora, mesmo em tempos de paz.

Cena do filme "Dunkirk" - Reprodução - Reprodução
Cena do filme "Dunkirk"
Imagem: Reprodução

"Se necessário sozinhos"

Beevor também criticou a cena de "O Destino de uma Nação", "absurda e totalmente fictícia", de Churchill no metrô em 1940, na qual tem uma conversa amigável com vários londrinos sobre a opinião do povo a respeito da guerra. Também ressalta falhas na transição de governo de Neville  Chamberlain.

"A distorção da história é imperdoável no meu ponto de vista". No fim das contas é um filme e a ficção tem sua parte, assim como a política.

"Demonstraremos mais uma vez que podemos defender nossa ilha... se necessário por anos, se necessário sozinhos", disse Churchill no famoso discurso.

Algumas pessoas conseguiram fazer uma interpretação pró-Brexit, como o político de direita Nigel Farage, defensor da saída britânica da União Europeia.

"Dunquerque é sempre usada por políticos como o símbolo de algo, mas cada vez que alguém tenta conectá-lo com a política contemporânea esbarra no fato de que isto aconteceu em 1940", afirmou Nolan.

Em todos os casos, destaca Hastings, "a ironia é que Churchill nunca viu nada glorioso em estar sozinho" e sempre lutou para manter alianças durante a guerra, incluindo a que estabeleceu com Josef Stalin.