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Produtora de Harvey Weinstein se aproxima cada vez mais da falência

O produtor e magnata Harvey Weinstein - Andrew Kelly - 10.fev.2016/Reuters
O produtor e magnata Harvey Weinstein Imagem: Andrew Kelly - 10.fev.2016/Reuters

De Nova York (EUA)

26/02/2018 21h40

Cheia de dívidas e com dezenas de ações judiciais, a The Weinstein Company (TWC), produtora fundada por Harvey Weinstein e seu irmão, Robert, anunciou que não tem outra saída que declarar falência após o colapso das negociações para a venda da empresa a um grupo de investidores.

A companhia desabou desde que começaram a vir à tona, em outubro, as denúncias de assédio sexual, abuso e até mesmo estupro feitas por mais de uma centena de mulheres contra Harvey Weinstein, cujos filmes receberam mais de 300 indicações ao Oscar e 81 estatuetas.

A TWC anunciou ter fracassado em alcançar um acordo com o consórcio liderado por Maria Contreras Sweet, uma ex-funcionária do governo de Barack Obama, por um montante de 500 milhões de dólares, segundo a imprensa americana.

"Fiquei surpreso ao ler em uma publicação uma carta de representantes da TWC sobre o fim de nossas negociações", embora "parecia que estávamos próximos a concluí-las em um par de dias", disse Contreras Sweet à imprensa americana.

"Infelizmente parece que esta transação terminou agora", acrescentou.

Fontes próximas às negociações sugeriram, no entanto, que ainda é cedo para dar por terminada a negociação.

Em carta de duas páginas dirigida a Contreras Sweet no domingo, representantes da produtora disseram que não tinham "outra saída" que declarar a falência.

Temendo que a venda da produtora deixasse as vítimas sem a indenização adequada e perpetuasse a atual direção na empresa, o procurador de Nova York Eric Schneiderman acionou a companhia no começo de mês.

Schneiderman disse que qualquer negócio devia contemplar uma indenização adequada para as vítimas, proteger os funcionários e remover os executivos que fizeram vista grossa para os abusos de Weinstein durante anos.

A produtora se queixa de que o consórcio liderado por Contreras Sweet não respeitou sua parte no acordo com relação às condições apontadas pelo procurador-geral, nem pôs à disposição fundos para manter os funcionários, nem as operações do dia a dia antes de que a compra terminasse.

"Devemos concluir que seu plano para comprar esta companhia foi ilusório e só deixaria esta companhia cambaleando até seu fechamento em detrimento de todos os seus integrantes", diz a carta, à qual a agência France Press teve acesso.

"Embora lamentemos profundamente que suas ações tenham levado a este resultado desafortunado para nossos funcionários, nossos credores e qualquer vítima, agora buscaremos a única opção viável da junta diretiva para maximizar o valor restante da companhia: um processo de bancarrota ordenado", acrescentou.

Harvey Weinstein e Kevin Spacey reunidos em evento - Reprodução - Reprodução
Protagonistas de escândalos de assédio: o produtor Harvey Weinstein e o ator Kevin Spacey
Imagem: Reprodução

Milhões para as vítimas

"Nos próximos dias, a companhia preparará sua declaração de bancarrota com a meta de alcançar seu valor máximo nos tribunais", acrescentou a produtora em um comunicado.

O gabinete do procurador-geral disse que estava "decepcionado" com a posição da TWC quando chegou a existir "um claro caminho" para cumprir suas condições, inclusive um compromisso do comprador "para dedicar até 90 milhões de dólares à compensação das vítimas".

"Continuaremos buscando justiça para as vítimas se a companhia entrar em quebra", disse Eric Soufer, diretor de comunicações e assessor da procuradoria de Nova York.

As denúncias de abuso sexual contra Weinstein desataram uma avalanche de acusações contra outros homens poderosos da música, da mídia, da gastronomia, da dança, do teatro, da televisão, da política e das finanças.

Jennifer Lawrence, de 27 anos, uma das atrizes mais conhecidas dos Estados Unidos, disse no domingo que quando se inteirou das acusações contra Weinstein "queria matá-lo".

"A maneira como destruiu a vida de tantas mulheres. Quero vê-lo na prisão", disse ao canal de televisão CBS.

Lawrence trabalhou com Weinstein e disse que ele "nunca foi inapropriado" com ela, mas acredita que o que fez é "criminoso e deplorável".

Qualquer avanço para a falência criará mais dúvidas sobre o destino de vários filmes já concluídos que estão em um caixão e ainda não têm data de difusão, por exemplo o histórico "The Current War", com Benedict Cumberbatch como Thomas Edison, "Mary Magdalene", um drama religioso com Rooney Mara, e "The War with Grandpa", uma comédia com Robert De Niro.

A companhia também estava com muitos projetos em etapas anteriores à finalização, o mais conhecido um de Quentin Tarantino sobre a família Manson ainda sem título, e "The Senator's Wife", um filme que, segundo Weinstein, confrontaria o poderoso lobby das armas de fogo, com atuação de Meryl Streep.

Weinstein foi despedido do cargo de diretor da companhia após a explosão do escândalo, e depois renunciou ao diretório.

Este homem casado, pai de cinco filhos, é investigado pela Polícia de Estados Unidos e do Reino Unido, mas não foi acusado de nenhum crime. Ele assegura que todas as suas relações foram consentidas e supostamente está em tratamento para compulsão sexual.