Padilha volta ao Festival de Berlim com '7 dias em Entebbe'
Berlim, 19 Fev 2018 (AFP) - José Padilha voltou nesta segunda-feira (19) ao Festival de Berlim com seu último filme, "7 dias em Entebbe", sobre o sequestro do avião da Air France em 1976, com o qual evita se limitar à violência do crime e dar voz a todas as partes do conflito israelense-palestino.
Dez anos depois de levar o Urso de Ouro da mostra berlinense com "Tropa de Elite", o cineasta apresentou - fora da mostra competitiva -, uma nova versão cinematográfica da operação israelense que permitiu libertar a centena de reféns mantidos em um terminal de um aeroporto de Uganda por militantes pró-palestinos, entre eles dois alemães marxistas.
O ator Daniel Brühl ("Adeus, Lênin") e a britânica Rosamund Pike ("Garota Exemplar") protagonizam o filme, 40 anos depois de Kirk Douglas, Anthony Hopkins e Elizabeth Taylor serem dirigidos por Marvin J. Chomsky em "Vitória em Entebbe".
Mas Padilha quis ir além da versão militar e se colocar na pele de quem decidiu lançar a operação de resgate, isto é, o então primeiro-ministro israelense, Yitzhak Rabin, mais inclinado a negociar do que seu ministro da Defesa, Shimon Peres, assim como quem executou o sequestro para defender a causa palestina.
- "Os terroristas são humanos" -As dúvidas e contradições dos sequestradores e o apego crescente de um deles aos passageiros permitem a Padilha explorar a consciência dos que são considerados, segundo lembra o filme no início, "terroristas" pelos israelenses e "lutadores pela liberdade" pelos palestinos.
"Se retratasse os terroristas como se não fossem humanos, porque o são, embora estejam fazendo algo terrível e indesculpável, estaria louco", disse Padilha durante coletiva de imprensa em Berlim, quando perguntado sobre a "reação violenta" que seu filme poderia suscitar.
O avião da Air France, que voava entre Tel Aviv e Paris, foi sequestrado com 250 pessoas a bordo em 27 de junho de 1976 e desviado para o aeroporto de Entebbe, visto que em Uganda os sequestradores contavam com o beneplácito das autoridades.
Boa parte dos passageiros foi libertada, enquanto uma centena - a maioria judeus e tripulantes - foi feita refém durante 7 dias, até ser libertada pelas forças de elite de Israel, cujo governo fez crer que estava disposto a negociar o pedido de libertação de presos palestinos.
Para Padilha, o filme ilustra até que ponto é "difícil negociar" para as autoridades israelenses e palestinas. Embora alguns estejam dispostos, "não podem" porque têm um grande custo político, disse o diretor. "E isto continua sendo assim hoje em dia", acrescentou, em alusão à ausência de negociações entre israelenses e palestinos.
Em sua apresentação à imprensa, o também diretor da série "Narcos" contou com a presença de um refém-chave, o engenheiro francês Jacques Lemoine, que fazia parte da tripulação do avião sequestrado.
"Nossa opinião após ver o filme foi unânime", entre os que viveram esse evento traumático 42 anos atrás. "Corresponde muito bem ao que sucedeu".
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