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'Ugly Models', a agência de modelos em que a beleza é ser diferente

16/02/2018 14h03

Londres, 16 Fev 2018 (AFP) - Tem gente tatuada, barriguda, com nariz torto, orelhas de abano, queixo proeminente e pescoço muito longo. E ninguém com medidas perfeitas. Bem-vindos à "Ugly Models", uma agência londrina de modelos diferentes.

A Semana da Moda começa nesta sexta-feira (16) na capital britânica e, entre as inúmeras pessoas que desfilarão pelas passarelas, apenas um pequeno grupo será da Ugly.

Esse tipo de evento, com suas jovens modelos macérrimas, ou andróginas, não é a especialidade da casa. Aqui, a busca é pela originalidade. E, embora a agência tenha "feios" no nome, seu dono, Marc French, garante que eles têm muito mais a oferecer.

"É uma agência para os modelos com personalidade", diz French.

"Há gordos, magros, altos, baixos. É uma celebração da diversidade", declara este quinquagenário barbudo, de sorriso esparramado, que cita o ator francês Gérard Depardieu como exemplo.

"Não é o homem mais bonito que vem à cabeça, mas é tão peculiar, tão genial, que é sexy", completa.

- O feio é belo -Fundada há meio século, a Ugly Models ocupa um escritório moderno no oeste de Londres. Sofás extravagantes, computadores de alumínio, paredes repletas de fotos de modelos. Entre as imagens penduradas, há um retrato de David Bowie e uma frase que é um verdadeiro lema: "A imperfeição é beleza, a loucura é genialidade".

Como qualquer agência, a Ugly administra a carreira de modelos e os põe em contato com todo tipo de cliente. Entre eles, Burberry, Mercedes e Jack Daniel's.

No dia da visita da equipe da AFP, a agência está organizando um casting para completar seu catálogo. Seguindo a reputação da empresa, os candidatos estão longe dos padrões do setor.

Lá, encontramos os grandões, por exemplo.

Um deles é Chris, um ex-militar com braços grossos feito toras, que posa com o peito nu ao lado de uma morena de biquíni. Ela tem 50 anos, mas aparenta metade, e sonha com retomar a carreira de modelo.

Ou Kris Chesney, um ex-jogador profissional de rúgbi que passou pelas equipes de Toulon e dos Saracens. Uma montanha de 1,98 metro e 135 quilos, com os braços tatuados e com a cabeça raspada, orgulhoso do rosto marcado e do corpo castigado por anos de luta nos estádios.

O que você procura em um lugar como esse? - perguntam a ele.

"Uma nova aventura, um novo desafio", afirma Kris.

Outros têm uma causa a defender.

Sheerah Ravindren é uma mulher do tipo "mignon", com 1,61 metro. Tem 22 anos, é originária do Sri Lanka e se apresenta como uma "modelo militante e imigrante".

Usa calças largas e um top preto, e tem longos cabelos negros, um piercing no nariz e um discurso ativista.

"Sou uma mulher de cor", afirma.

"Desde pequena, nunca vi ninguém parecido comigo na mídia, ou na moda", alega.

Lá também está Frances, uma jovem com jaqueta de couro, luvas sem dedo, franja estilo retrô e surpreendentes muletas futuristas. É deficiente física, mas - ressalta orgulhosa - "isso nunca me impediu de fazer o que queria".

- 'De bem consigo mesmo' -"Um bom modelo Ugly é alguém que se sente de bem consigo mesmo", explica Marc French.

"Não queremos que as pessoas mudem. É muito importante quando se pensa na pressão exercida sobre os jovens", submetidos à ditadura da magreza.

A agência nega certa tendência pelo esquisito, ou um uso cínico das particularidades de seus modelos. Pelo contrário.

"Às vezes, ligam para nos pedir 'anões dispostos a brigar'", lamenta Lulu Palmer, encarregada dos novos modelos.

"Não fazemos isso. Não estamos aqui para explorar pessoas", ressalta.

Sempre em busca de novos talentos, o pessoal da agência reconhece que o nome da empresa pode causar reações inesperadas.

"Conheci muita gente que me diz: 'não ouse me chamar de modelo'", conta French, mas - acrescenta -, quando se dão conta da verdadeira natureza da agência, de suas oportunidades, "então, querem fazer parte dela".

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