Idosos se unem contra a mutilação genital em Uganda
Amudat, Uganda, 8 Fev 2018 (AFP) - Trinta vacas foi o preço que selou o destino de Joyce. Em troca delas, quando tinha apenas 12 anos, a deram em casamento a um homem com a idade de seu pai.
Joyce deixou o oeste do Quênia para a casa de seu marido em Uganda. Desesperada com sua nova vida, fugiu, mas não voltou para a casa dos pais.
Encontrou refúgio em uma escola primária para meninas da etnia Kalash, no noroeste de Uganda, assim como cerca de 100 jovens que escaparam para evitar casamentos forçados e os rituais de mutilação genital feminina (MGF) que marca a passagem da infância à vida adulta.
Neste local se sente segura, mas reconhece que ainda vive "com medo".
A ablação total ou parcial dos órgãos genitais externos de uma mulher é proibida em Uganda desde 2010. Contudo, ainda é praticada em algumas comunidades rurais onde é tradição, marcando a entrada da adolescente na idade de poder contrair matrimônio
Joyce conseguiu evitar a mutilação, mas Rose, outra jovem interna, teve menos sorte. Ela foi obrigada a casar muito cedo e logo após dar à luz seu primeiro filho foi submetida à ablação. "Estava sofrendo muito por causa do parto, mas isso não os impediu de me mutilar", conta.
- Tradição -Na tribo Pokot de Joyce e Rose, as mutilações genitais têm como finalidade "fazer com que as mulheres sejam puras e matar o apetite sexual", explica James Apollo Bakan, da associação local Vision Care Foundation, que tenta erradicar a prática.
Entre os povos seminômades como os Pokot, os homens usam a prática para que suas mulheres sejam fiéis quando partem em longas jornadas para criar animais, isso porque este tipo de mutilação provoca grande dor durante o ato sexual.
"Cortam o clítoris para que as mulheres não tenham o desejo de procurar outros homens", explica Bakan.
O Fundo de População das Nações Unidas (FPNU) estima que 95% das meninas e mulheres da etnia pokot sofreram mutilações genitais.
Os curandeiros e chefes tribais pokot se comprometeram a acabar com a prática.
Monica Cheptilak, uma mulher de 70 anos que realizou ablações por meio século, renunciou à prática. Ela recorda, chorando, como, por vezes, as meninas morriam em decorrência dos ferimentos ou sangramentos após a cerimônia.
Uma vez, seis meninas da mesma idade contraíram o vírus HIV por causa de uma lâmina infectada, relata.
"Quando penso nessas meninas, em como morreram e em seu sofrimento me sinto mal e sofro por elas", afirma;
Paulina Isura Chepar, uma funcionária pública e vítima da ablação, viu morrer sua irmã logo após uma mutilação genital. Agora ela combate essa prática. "Não quero que meus filhos passem pela mesma coisa", afirma.
Na semana passada, Jeremia Labur, um curandeiro de 78 anos, participou de uma cerimônia para pedir perdão pelos casamentos forçados e mutilações realizadas no passado. Um cabrito foi sacrificado.
Bakan comemora a mudança de mentalidade: "Ao invés de bendizer as meninas mutiladas, eles (os curandeiros) condenam agora esta prática e convidam a comunidade a abandoná-la".
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