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Análise: Lugar do Simple Minds ainda não é no "museu"

O grupo escocês Simple Minds se apresenta em São Paulo em 2013 - Manuela Scarpa/Foto Rio News
O grupo escocês Simple Minds se apresenta em São Paulo em 2013 Imagem: Manuela Scarpa/Foto Rio News

Em Paris (França)

31/01/2018 11h01

"Para que a história continue, é preciso escrever novos capítulos. Caso contrário, nos calcificamos, nos tornamos nosso próprio museu", adverte Jim Kerr, líder do Simple Minds, que retorna com "Walk Between Worlds", um 17º álbum revigorante e nostálgico.

No planeta pop-rock, o Simple Minds, em meados dos anos 80, rivalizava com os gigantes U2 ou Depeche Mode em termos de vendas de álbuns. Dos seus sintetizadores e guitarras entrelaçadas saiam um som próprio e uma série de sucessos como "Don't You (Forget About Me)", "Mandela Day" ou "Alive and Kicking".

E, embora a banda escocesa com mais de 60 milhões de discos vendidos em todo o mundo já não estivesse no topo das paradas na virada do milênio, continuou sua jornada. E tem se beneficiando há algum tempo de um retorno aos holofotes, tanto devido ao revival dos anos 80 quanto a sua inegável simpatia.

Desta forma, entrevistar Jim Kerr é uma missão agradável, um pouco como conhecer, em um pub, seu vizinho de cerveja. Um homem afável, que deixa seu interlocutor à vontade, sem nunca dar a impressão de falar com uma estrela do rock que rivalizava em seu auge com Bono.

"A verdade para este álbum é que nos sentimos em grandeza", disse ele à AFP durante uma entrevista em Paris.

"'Big Music', nosso trabalho precedente, foi muito bem recebido e eu queria manter essa energia positiva. Então, ao invés de descansar, propus que começássemos imediatamente a trabalhar de novo".

Foi preciso esperar um pouco mais de três anos para ver a chegada de "Walk Between Worlds", intercalados com um disco acústico e uma mini-turnê.

"Este intervalo nos permitiu abrir a novos caminhos, contratamos novos músicos e Charlie (Burchill, o outro membro original da banda) nunca tocou tão bem a guitarra. Assim, demos mais espaço a ele", esclarece Jim Kerr.

- Bowie e a máfia -Que os fãs fiquem tranquilos, os teclados permanecem dominantes em certas trechos. O resultado assume a forma de oito canções vintage, com uma produção apurada.

Em suas palavras, Jim Kerr também cultiva uma certa nostalgia.

"'Magic' fala sobre mim quando tinha 18 anos e queria mostrar ao mundo o que valia. Tinha raiva e fé ao mesmo tempo", diz aquele que se lembra "como ontem" a primeira vez que o Simple Minds tocou em Paris.

"Foi em 1980 no Pavillon Baltard, havia a banda Marquis de Sade, e lembro da conversa com seu líder Philippe Pascal".

Em "Sense of Discovery", um homem idoso transmite sua sabedoria a uma pessoa mais nova. Jim Kerr canta como David Bowie, um dos seus ídolos cujo sucesso "The Jean Genie" deu a sua banda o nome de "Simple Minds", com sua estrofe "He's so simple minded, he can't drive his module".

"Nunca tive a oportunidade de encontrar Bowie", conta Jim Kerr.

"Conversei com ele uma vez por telefone, ele estava ligando da parte de seu agente que também era o meu. 'Escuta, existe este promotor italiano com quem você trabalha, ele quer trabalhar comigo. Mas, aparentemente, ele está na máfia'. Eu respondo: 'sim, é verdade. Mas isso não é problema, ele paga um rubi por unha e se tornou um amigo nosso. O que ele faz por fora não nos diz respeito' ele esperou um tempo: 'Ele paga sem problema? Bom... Está tudo bem para mim' E desligou".

"Acontece que eles se tornaram muito amigos", conclui o cantor, "mas isso não me ajudou a conhecer Bowie".