Topo

Novas armas do Kremlin na internet provocam temor e especulações

22/12/2017 12h36

Moscou, 22 dez 2017 (AFP) - Da eleição de Donald Trump até a crise catalã, passando pelo Brexit, as acusações de interferência do Kremlin em questões internas ocidentais aumentaram no último ano os temores provocados por hackers, trolls e meios de comunicação estatais russos.

As primeiras acusações contra a Rússia surgiram com o ataque aos servidores do Partido Democrata americano em 2016 e aumentaram após a eleição Trump, revelando o amplo leque de ferramentas utilizadas a serviço dos interesses do Kremlin.

Os esquivos "hackers russos", que supostamente travam uma guerra cibernética para o serviço secretos, foram os primeiros apontados, mas rapidamente deram espaço às reportagens televisivas, textos na internet e anúncios que viralizaram nas redes sociais, destinados a explicar as posturas de Moscou e também a aproveitar os falha e as divisões das democracias ocidentais.

No mais recente capítulo da história, que mantém uma sombra ante a presidência de Trump, o canal de televisão público RT, acusado de difundir a propaganda do Kremlin no exterior, cumpriu em novembro as exigências de Washington e se registrou como "agente estrangeiro" nos Estados Unidos.

Poucas semanas antes, a rede social Twitter proibiu o RT e a agência de notícias pública russa Sputnik de divulgar conteúdo patrocinado, enquanto Facebook e Google prometeram lutar contra a "desinformação" de Moscou.

A ameaça preocupa em todas as partes: o governo espanhol aponta "manipulações" procedentes da Rússia na crise catalã, analistas britânicos observam sinais de influência russa no Brexit e cresce o temor de interferências do Kremlin em outras eleições.

- 'Guerra de informação' -O Kremlin denuncia energicamente o que chama de acusações "histéricas", "ridículas" e "infundadas", alimentadas pela "russofobia". E espera provas concretas.

Depois de assumir que havia perdido a "guerra midiática" durante o breve conflito contra a Geórgia em 2008, a Rússia fez todo o possível para desenvolver seu poder de atração. Os esforços resultaram em meios de comunicação em vários idiomas estrangeiros: o canal Russia Today, que virou RT, e a agência de notícias on-line Sputnik.

A missão oficial dos braços mediáticos do Kremlin é apresentar no exterior o ponto de vista de Moscou, especialmente sobre questões que provocam tensões com os ocidentais, como Síria ou Ucrânia.

"A Rússia gasta muito dinheiro na guerra de informação e adiciona constantemente novos atores. Está na dianteira neste âmbito", explica Andréi Soldatov, chefe de redação do portal Agenta.ru, especializado em questões de inteligência.

Em 2014, uma nova ferramenta de influência, mais secreta, apareceu nos meios russos: a "fábrica de trolls" de São Petersburgo. A empresa, cujo nome oficial é Internet Research Agency e que segundo a imprensa estaria vinculada ao serviço de inteligência do país, supostamente alimenta milhares de contas falsas nas redes sociais para intentar influenciar a opinião pública.

De acordo com fontes contactadas pelo jornal econômico RBK, os "trolls", que se dedicaram primeiro a assuntos de política interna, começaram em 2015 a espalhar a discórdia nos Estados Unidos: se passaram por simpatizantes democratas ou republicanos, chegando inclusive a organizar manifestações ou divulgando informações falsas pela internet.

As operações do Kremlin durante a campanha americana "não tinha como objetivo decidir quem chegaria à Casa Branca e sim abalar a legitimidade do governo americano, sua capacidade de agir e sua unidade", afirmou em um artigo Mark Galeotti, do Instituto de Relações Internacionais de Praga.

Apesar dos esforços de Moscou, seu poder de influência e sua capacidade de ação continuam limitados.

Autoridades americanas recordaram que os conteúdos divulgados a partir da Rússia e o dinheiro gasto durante a campanha eleitoral representam apenas uma pequena parte do fluxo de informação e do orçamento total dos candidatos.

No Facebook, os russos gastaram 100.000 dólares antes e depois das eleições nos Estados Unidos, contra 81 milhões desembolsados por Hillary Clinton e Donald Trump nas redes sociais.

"A respeito dos hackers, a capacidade dos americanos em segurança virtual é muito superior", afirma Soldatov, para quem os russos utilizam especialmente métodos que precisam de poucos recursos como o roubo de senhas.

Ele também relativiza o sucesso da Rússia na guerra de informação.

"O Kremlin não obteve grande coisa com estas operações, que provocaram mais ruído do que benefícios para Moscou", disse o jornalista. Mas, segundo ele, outros países poderiam cair na tentação de utilizar técnicas similares no futuro.

or-pop/tbm/gmo/gm/ra.