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Spielberg homenageia o jornalismo em 'The Post'

21/12/2017 11h37

Washington, 21 dez 2017 (AFP) - Em um momento em que os meios de comunicação são acusados de divulgar "notícias falsas", Steven Spielberg, Meryl Streep e Tom Hanks levam todo o poder das estrelas a um filme que é uma grande homenagem ao jornalismo e às virtudes da imprensa.

"The Post: A Guerra Secreta", que estreia sexta-feira nos Estados Unidos e em fevereiro no Brasil, conta os bastidores da batalha para a publicação, em 1971, pelo jornal The Washington Post dos "Papéis do Pentágono", um relatório que revelou as mentiras sobre a participação dos Estados Unidos na Guerra do Vietnã.

Dirigido por Spielberg, o filme tem como protagonistas Meryl Streep, como a aristocrata editora do jornal Katharine Graham, e Tom Hanks, no papel do tenaz editor executivo Ben Bradlee.

O drama central do filme aborda a decisão de Graham de publicar os documentos do Pentágono, um movimento que poderia ter provocado consequências fatais para o jornal que Graham começou a dirigir em 1963, após o suicídio de seu marido.

Os Papéis do Pentágono, vazados pelo informante Daniel Ellsberg, eram um relatório confidencial de 7.000 páginas que afirmava, ao contrário das declarações públicas dos funcionários do governo americano, que a guerra do Vietnã era impossível de vencer.

O jornal The New York Times publicou trechos do relatório até que o governo do presidente Richard Nixon obteve uma ordem judicial que proibia à publicação continuar interferindo em temas de segurança nacional.

Foi então que o Washington Post entrou na jogada, assumindo a missão e desafiando os perigos legais e financeiros.

Spielberg, Streep e Hanks compareceram na semana passada à pré-estreia de "The Post" no museu dedicado ao jornalismo, o Newseum, que fica a poucas quadras da Casa Branca, na avenida Pennsylvania.

Mesmo ausente, o evento girou em torno do presidente Donald Trump, que há meses lidera uma campanha contra a imprensa, que considera injusta com ele.

Trump tem sido particularmente mordaz com a CNN e o New York Times e atacou repetidamente o Post, que acusou de "desonesto, mentiroso" e, seus termos favoritos, de publicar "fake news" (notícias falsas).

No Twitter, o presidente chama o jornal de "Amazon Washington Post", em referência a Jeff Bezos, proprietário da gigante da internet Amazon, que comprou o Post da família Graham em 2013.

- 'Filme sobre patriotismo' -Na pré-estreia, Spielberg, Hanks e Streep, que já foi chamada por Trump de "superestimada", evitaram citar o nome do presidente e minimizaram os comentários de que o filme seria uma crítica à atual Casa Branca.

"Acredito que é muito, muito importante que nosso filme não seja visto como uma obra política ou partidária por parte do que chamam de mídia liberal ou Hollywood", disse Spielberg.

"Não o vejo como um filme partidário, e sim como um filme sobre patriotismo e sobre os meios de comunicação corajosos, o Quarto Poder, e tudo o que fizeram para conseguir publicar os Papéis do Pentágono, que depois levou a Watergate".

O caso Watergate foi tema de um grande sucesso de Hollywood, no qual o Washington Post também teve um papel central: "Todos os Homens do Presidente", no qual Robert Redford e Dustin Hoffman interpretaram os repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein.

Apesar dos pedidos de Spielberg, os críticos observam paralelos inevitáveis entre "The Post", sua defesa da imprensa e a difamação constante de Trump aos meios de comunicação.

"'The Post' nos leva de volta a um tempo em que os resultados eram precários e as liberdades que considerávamos garantidas pendiam por um fio", afirma a revista Variety. "Exatamente como hoje".

Para a revista The New Yorker, "'The Post' não é um filme de época. Enfrenta diretamente o dia de hoje, lutando pela urgência de um manchete".

"O filme está aqui para nos alertar sobre as novas ameaças à liberdade de imprensa".