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O tradicional marzipã de Natal tenta se reinventar na Alemanha

20/12/2017 17h24

Lübeck, Alemanha, 20 dez 2017 (AFP) - No Natal na Alemanha não pode faltar o marzipã, uma pasta de açúcar, clara de ovo e amêndoa moída que remonta à Idade Média, mas a tradição encara a explosão dos preços, o que levou os confeiteiros a inovar.

"O marzipã tem uma imagem um pouco antiquada", admite Janine Judetzki, porta-voz do fabricante alemão Lemke.

Segundo a tradição de Lubeca, uma cidade portuária do norte da Alemanha e berço deste doce, hoje muito popular nas festas de fim de ano, a produção de marzipã começou no século XV.

Muito maleável, pode ser esculpido em múltiplas formas, desde as clássicas "batatas" marrons (pequenas bolas de marzipã cobertas de cacau em pó) até corações, frutas e o "porco da sorte", tradicional no Ano Novo.

Apreciado pelos soberanos prussianos, esse doce também recebeu elogios de escritores, como Thomas Mann, natural de Lubeca e cujo rosto esculpido em marzipã está exposto em um museu.

Mas a subida do preço da amêndoa, devido à especulação e ao clima - como a seca dos últimos anos na Califórnia, grande produtor -, afetou os confeiteiros. Vários tiveram que fechar seus negócios - em sua maioria, empresas familiares.

Outros conseguiram se manter no mercado, como Lemke que, mais de cem anos depois de sua fundação, quer "rejuvenescer a imagem" deste produto e "se dirigir a outros públicos", segundo seu porta-voz.

- Cultura alemã -Algo parecido busca Niederegger, criada em 1806 em Lubeca, que há dois anos lançou uma nova linha de marzipãs "para homens" chamada "Um assunto de homens", com sabor de castanha de caju e uísque, embalados em pequenas caixas de ferramentas.

O produto obteve um êxito notável. "As mulheres compram marzipã, mas os homens também gostam de comê-lo", aponta Kathrin Gaebel, uma das porta-vozes da companhia, que hoje é dirigida pela oitava geração da família.

Neste entusiasmo pela inovação, a empresa expõe até mesmo uma impressora 3D que confecciona miniaturas de marzipã, embora estas não sejam tão delicadas como as esculpidas pelos funcionários.

Cerca de 60% de suas vendas são registradas no Natal, em um contexto complicado pela subida do preço das amêndoas.

"As indústrias da avelã e da amêndoa sofreram muito", indica à AFP Marcia Mogelonsky, especialista do instituto de pesquisa britânico Mintel.

Para fazer marzipã, "necessita-se dois terços de amêndoas e só um de açúcar", de modo que, se o preço da amêndoa quadruplica, o do marzipã "pelo menos dobrará", explica Gaebel.

O aumento dos preços dos alimentos afetou especialmente as pequenas e médias empresas, como a Niederegger, que emprega 750 pessoas.

Por isso, os poderes públicos regionais de Schleswig-Holstein destinaram em 2016 885.000 euros para a Niederegger e outra confeitaria da região para que modernizassem seus meios de produção.

As empresas tradicionais precisam de ajudar para ser competitivas em nível mundial, considera Harald Haase, porta-voz do ministério regional de Economia.

Mas o grande responsável por salvar o marzipã talvez seja seu arraigo na cultura alemã.

"Quando você é pequeno, te dão de presente" e mais tarde "é você que dá de presente às crianças", diz Eva Mura, outra porta-voz da Niederegger, que assegura que a empresa "também se aproveita disso".

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