Topo

Ciberjusticeira mantém guerra contra nacionalistas na saga "Millenium"

Versão em HQ da "Millenium Saga" - Reprodução
Versão em HQ da "Millenium Saga" Imagem: Reprodução

Estocolmo (SUÉCIA)

28/11/2017 18h51

A silenciosa ciberjusticeira coberta de piercings Lisbeth Salander prossegue com sua guerra contra o nacionalismo 2.0 na graphic novel "Millenium Saga", livremente inspirada nos romances do sueco Stieg Larsson.

A série, cujo segundo volume, "Os Novos Espartanos", foi desenhado por Ortega, assim como o primeiro, "As almas frias", retoma os temas fundamentais da trilogia de Larsson.

"O que me interessava no início dos três primeiros romances do Millenium eram temáticas que eu estudava ou utilizava em meus próprios relatos. O que fez com que eu realmente me enganchasse neste universo", explica o roteirista franco-belga Sylvain Runberg, que já tinha feito uma primeira trilogia desenhada pelo espanhol Josep Homs.

A violência contra as mulheres, o auge da extrema-direita, o papel dos meios na sociedade atual: "Infelizmente, tudo que Stieg Larsson anunciava ou apontava como perigos potenciais para nossas democracias há 15 anos está acontecendo agora", analisa o autor de mais de 70 títulos de comics, entre eles a famosa série "Orbital".

Em "Os Novos Espartanos", Lisbeth Salander se dispõe a hackear um importante centro de dados para revelar os dossiers comprometedores dos serviços secretos suecos, quando uma de suas ajudantes é sequestrada.

Lisbeth então pede ajuda ao jornalista Mikael Blomkvist, cujo jornal "Millenium" está à beira do abismo financeiro. O repórter está investigando os vínculos do líder de um partido de ultra-direita sueco com grupos neonazistas.

Personagens opostos

Como nos livros de Larsson, o casal improvável formado por estes dois personagens tão opostos é um elemento crucial da trama, entre "um Mikael Blomkvist legalista e (...) uma Lisbeth Salander que tende ao lado anárquico e não hesita em quebrar as regras para conseguir o que quer", afirma Runberg.

"Isso cria uma originalidade no relato, ter dois personagens totalmente opostos em relação aos meios de ação mas que coincidem nos ideias pelos que lutam", acrescenta.

Estocolmo aparece como mais um ator em um roteiro perfeitamente criado por Ortega.

"Millenium é um universo muito obscuro e violento, mas a cidade de Estocolmo é uma cidade com muita cor, muito viva e agradável para viver, e esse contraste se destaca nos desenhos" da jovem ilustradora espanhola, afirma.

A sombra de Steve Bannon

Runberg se inspirou na vida política americana para criar um dos vilões da história, o líder de Sparta, um pequeno grupo nacionalista.

"Quando comecei a escrever 'Millenium Saga', há pouco mais de dois anos, me inspirei muito em alguém que existe realmente na cena política americana. É Steve Bannon (...). Então, eu estava longe de imaginar que encontraríamos esse mesmo Steve Bannon na Casa Branca como principal conselheiro de Donald Trump".

Autorizado pelos herdeiros de Stieg Larsson, que morreu de um ataque cardíaco em 2004 pouco depois de entregar seus manuscritos, Runberg já tinha adaptado ao comic os romances originais da mão de Homs.

Agora, suas novas obras não têm nada a ver com a continuação da saga imaginada pelo escritor sueco David Lagercrantz, que já publicou dois volumes que venderam milhões de exemplares.

"É agradável ver os relatos ganharem vida sob diferentes formas. São tão diferentes que se completam, em vez de concorrerem", assegura Joakim Larsson, irmão de Stieg Larsson e herdeiro de seus direitos.