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Venda da Time mostra mudanças políticas e econômicas na imprensa

27/11/2017 20h52

Washington, 27 Nov 2017 (AFP) - O conglomerado de meios de comunicação americano Meredith Corporation, editor de publicações como Better Homes and Gardens, anunciou no domingo (26) a compra do grupo editorial Time Inc. por cerca de 2,8 bilhões de dólares.

Esta aquisição acaba com meses de boatos sobre o possível comprador da Time Inc., que publica as revistas Time, Fortune, Sports Illustrated, e mostra as desventuras dos veículos impressos, gerando dúvidas para a indústria das notícias na era Trump.

A transação, que ocorrerá em efetivo, será de 1,7 bilhão de dólares, aos quais se adicionarão mais um bilhão de dólares em dívidas.

A operação foi aceita pelos conselhos administrativos das duas empresas e deve ser concluída no primeiro trimestre de 2018.

O acordo é respaldado pelos irmãos bilionários Charles e David Koch, conhecidos por apoiar causas e candidatos conservadores, além de velhos antagonistas dos principais meios.

Os 650 milhões de dólares vertidos pela sociedade Koch Equity Developmente (KED) foram definidos como um investimento "passivo", segundo o grupo Meredith. A KED não estará representada na junta diretora nem terá ingerência editorial ou gerencial.

O apoio dos Koch gerou inquietação, pois muitos temem que conservadores endinheirados decidam financiar organizações de meios de comunicação para distanciá-los do que alguns consideram preconceitos esquerdistas.

"Os meios (de comunicação) são um investimento horrível e se você vai se responsabilizar, faça isso por razões que vão além dos lucros", disse Jeff Jarvis, ex-jornalista da Time e professor de Novas Mídias na City University de Nova York.

Jarvis disse que não se opõe que conservadores invistam na imprensa, mas sustentou que os Koch "parecem ser mais propagandistas do que jornalistas".

Angelo Carusone, presidente do grupo de esquerda de acompanhamento da mídia Media Matters for America, disse duvidar que a família Koch se comporte passivamente. "Isso eu não compro", afirmou Carusone. "Por que iriam investir? Eles não respeitam o Jornalismo. Odeiam a mídia", assinalou.

- 'Pessoa do ano'? -O acordo entre Meredith e Time chega em meio a conflitos sobre a cobertura da atualidade política nos Estados Unidos.

Também coincide com um esforço de Washington de relaxar as medidas contra a concentração de meios de comunicação. Críticos da Casa Branca dizem que são pensadas para favorecer um amigo do presidente Donald Trump que busca comprar canais de televisão em estados onde possui jornais.

Entretanto, Trump está em guerra contra o que chama de "notícias falsas" da CNN e na semana passada afirmou ter rejeitado a sua nomeação como "Pessoa do Ano" pela Time, informação desmentida pela publicação.

Dan Kennedy, professor de Jornalismo da Northeastern University disse que um dos irmãos Koch integra a diretoria de uma emissora de televisão de Boston e mostrou "saber como agir com responsabilidade".

"É realmente triste que a Time Warner tenha optado se separar da Time Inc. para se concentrar em seus negócios rentáveis e tenha deixado as revistas em um iceberg que derrete", acrescentou.

Em junho de 2014 a Time Inc. se separou da Time Warner, depois que a empresa de mídia e entretenimento quis se desfazer de sua divisão de revistas.

Samir Husni, acadêmico da Universidade do Mississippi, declara não ver motivações políticas no negócio.

"É como o que aconteceu com os jornais nos anos 1970 e 1980. A mesma consolidação ocorre agora com as revistas", disse.

Para Husni "ainda se pode fazer muito dinheiro com as revistas", contanto que as empresas saibam adaptar o modelo de negócios no papel e no digital.

Os Koch, afirmou, "não são bobos" e não teriam investido dinheiro sem ter expectativas de faturar.

rl/it/gm/yow/cb

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