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Crânio na Papua Nova Guiné pertenceu à vítima de tsunami mais antiga do mundo

26/10/2017 16h38

Sydney, 26 Out 2017 (AFP) - Um crânio de 6.000 anos encontrado na Papua Nova Guiné pertenceu, provavelmente, à vítima de tsunami mais antiga do mundo, disseram especialistas nesta quinta-feira (26) após uma nova análise da área em que foi encontrado.

O crânio parcialmente preservado da cidade de Aitape foi descoberto em 1929 pelo geólogo australiano Paul Hossfeld, a 12 quilômetros da costa norte da nação do Pacífico.

Por muito tempo se considerou que pertencia ao Homo erectus, uma espécie extinta que acredita-se ser um antepassado do humano moderno e que desapareceu há cerca de 140 mil anos.

Mas datações por radiocarbono mais recentes estimaram que o crânio tinha cerca de 6.000 anos, o que faz com que pertença a um membro da nossa própria espécie, o Homo sapiens. Naquela época, o nível do mar era maior e a área teria estado perto da costa.

Uma equipe internacional liderada pela Universidade de Nova Gales do Sul retornou ao local para coletar os mesmos depósitos geológicos observados por Hossfeld.

De volta ao laboratório, eles estudaram detalhes dos sedimentos, incluindo o tamanho de seus grãos e sua composição geoquímica, o que pode ajudar a identificar uma inundação de tsunami.

Eles também identificaram uma série de organismos microscópicos do oceano nos sedimentos, semelhantes aos encontrados no solo após um tsunami devastador atingir a região em 1998.

"Nós descobrimos que o lugar onde o crânio de Aitape foi encontrado era uma lagoa costeira que foi inundada por um grande tsunami há cerca de 6.000 anos", disse o autor do estudo James Goff, cientista da UNSW.

"Foi semelhante ao que atingiu perto dali com um efeito devastador em 1998", matando mais de 2.000 pessoas, acrescentou.

"Concluímos que essa pessoa que morreu lá há tanto tempo é provavelmente a vítima conhecida de tsunami mais antiga do mundo".

As conclusões do estudo, que contou com a participação de pesquisadores dos Estados Unidos, França, Nova Zelândia e Papua Nova Guiné, foram publicadas na revista científica PLOS ONE.

- Inundação maciça -Goff, uma autoridade mundial em tsunamis, disse que, embora os ossos do crânio tenham sido bem estudados anteriormente, pouca atenção havia sido dada aos sedimentos onde eles foram desenterrados.

"As semelhanças geológicas entre esses sedimentos e os sedimentos depositados durante o tsunami de 1998 nos fizeram perceber que as populações humanas nesta área foram afetadas por essas inundações maciças por milhares de anos", disse ele.

"Depois de considerar uma série de cenários possíveis, acreditamos que, com base nas evidências, o indivíduo foi morto diretamente no tsunami ou foi enterrado pouco antes dele atingir o local e os restos foram redepositados".

Após o tsunami de 1998, que se estendeu por até cinco quilômetros da costa, as tentativas de recuperação das vítimas foram interrompidas após uma semana porque os crocodilos estavam se alimentando dos cadáveres, levando ao seu desmembramento.

Isso também pode explicar por que o crânio da pessoa que morreu há 6.000 anos foi encontrado sozinho, sem outros ossos, disseram os pesquisadores.

A atenção mundial se voltou para o impacto devastador dos tsunamis nas últimas décadas, em particular na Indonésia em 2004 e no Japão em 2011, que mataram cerca de 230 mil e 16 mil pessoas, respectivamente.

Mas a pesquisa no Pacífico mostrou que, ao longo da história e da pré-história, a região foi atingida repetidamente por tsunamis catastróficos que causaram morte, abandono dos assentamentos, ruptura das rotas comerciais e até guerra, disse o estudo.

"Este trabalho reforça o reconhecimento crescente de que os tsunamis tiveram uma influência significativa nas populações costeiras ao longo da pré-história do Pacífico e, sem dúvida, em outros lugares também", disse o coautor do estudo Darren Curnoe, também da UNSW.