Hollywood: moda e finanças são afetadas pelo escândalo Weinstein
As repercussões da queda de Harvey Weinstein superaram os limites de Hollywood e atingiram a indústria da moda e o mundo das finanças: as empresas começaram a demitir poderosos executivos acusados de assédio sexual para legitimar sua política de tolerância zero.
As revelações sobre atos de assédio e abuso sexual que o magnata praticou durante anos destruíram sua carreira e seu casamento, e mostraram um problema endêmico na meca do cinema.
Mas quase três semanas depois das primeiras acusações virem à tona, a história se repete em outros setores.
O grupo editorial Condé Nast confirmou na terça-feira (24) a demissão de Terry Richardson, fotógrafo de Nova York de 65 anos conhecido por suas imagens de conteúdo explícito e há anos acusado por modelos de assédio.
No mundo masculino das finanças americanas, uma fonte anunciou que o fundo de investimentos Fidelity Investments demitiu Robert Chow, de 56 anos, que trabalhava na empresa há 30 anos, e Gavin Baker, de 41, que administrava um fundo de tecnologia de 16 bilhões de dólares.
Sua presidente executiva, Abigail Johnson, considerada a mulher mais poderosa das finanças nos Estados Unidos, estava há semanas exigindo as demissões dos dois funcionários da empresa.
"Simplesmente não toleraremos esse tipo de comportamento", disse em entrevista por e-mail à AFP o porta-voz do Fidelity, Vincent Loporchio.
Johnson, com um patrimônio de US$ 17,5 bilhões segundo a revista Forbes, lidera um fundo que administra US$ 6,4 bilhões em ativos e faz parte dos 2% de mulheres que ocupam o cargo de presidente executiva, segundo a organización Catalyst.
"Inaceitável"
A decisão da Condé Nast de não publicar o trabalho de Richardson é um grande sinal de que a tolerância com os homens poderosos acusados de condutas sexuais inapropriadas é cada vez menor.
Os funcionários da Condé Nast International --editora de revistas como Vogue, Vanity Fair e Glamour-- foram informados por e-mail de que o trabalho de Terry Richardson nos arquivos da empresa deveria ser "eliminado ou substituído".
"O assédio sexual de qualquer tipo é inaceitável e não deve ser tolerado", diz a empresa.
Assim como Weinstein, Richardson insiste que todas as suas relações foram consentidas. Na terça-feira, um representante disse que o fotógrafo estava "decepcionado".
Marido e pai de dois filhos, Richardson fotografou campanhas de moda, retratou Barack Obama antes de sua eleição à Casa Branca e dirigiu o videoclipe de Miley Cyrus de 2013, "Wrecking Ball", em que aparece nua.
O jornal britânico Sunday Times se pergunta por que Richardson era "ainda celebrado", apesar de ter "uma reputação como um Harvey Weinstein da moda".
Assédios sexuais
Enquanto isso, o escândalo Weinstein cresce. Uma ex-assistente de produção afirmou na terça-feira ter sido agredida pelo magnata cinematográfico em Nova York em 2006, quando foi vítima de assédio não denunciado à polícia.
Mimi Haleyi relatou que o produtor a bombardeou com ligações e mensagens, e foi até seu apartamento insistindo para que ela voltasse com ele em um avião particular para Paris para ver os desfiles de moda. Ela se negou todo o tempo.
Ao voltar, continuou a assediá-la, obrigando Mimi a fazer sexo oral nele.
"Nunca quis que alguém fizesse isso comigo, nem mesmo se fosse meu namorado. Lembro que Harvey disse: "Não acha que agora estamos muito mais próximos um do outro?", e respondi: "Não", contou Haleyi.
O caso não foi denunciado à Polícia. Sua advogada, Gloria Allred, que representa outras supostas vítimas, disse que pode ser difícil seguir com um processo porque os supostos crimes já prescreveram.
Paralelamente, a atriz Dominique Huett denunciou, também na terça-feira, a The Weinstein Company, alegando que sofreu agressões sexuais e que a produtora permitiu que isso acontecesse porque há anos tinha conhecimento da conduta de seu co-fundador.
O famoso chef americano John Besh, garoto-propaganda de culinária de Nova Orleans que já cozinhou para líderes mundiais e apareceu em programas de televisão, também renunciou nessa segunda-feira ao cargo em sua empresa após várias mulheres alegarem que o assédio sexual é comum em seus restaurantes.
Besh reconheceu uma "aventura amorosa", mas negou uma cultura abusiva em sua companhia, onde mulheres asseguraram que seus companheiros de trabalho e supervisores as tocavam e faziam comentários de forma inapropriada, e por vezes tentavam coagi-las a ter relações sexuais.
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