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Filme argentino fala de adoção e pobreza em San Sebastián

25/09/2017 15h01

São Sebastião, Espanha, 25 Set 2017 (AFP) - Até onde uma mulher é capaz de chegar por amor? O argentino Diego Lerman apresentou nesta segunda-feira um provocante filme sobre adoção e pobreza no Festival de San Sebastián, para onde o astro Arnold Schwarzenegger levou sua cruzada contra as mudanças climáticas.

No quarto dia do festival, cuja cerimônia de premiação acontecerá no sábado, Lerman pôs o cinema latino-americano em destaque com "Una especie de familia", filme aplaudido em sua apresentação no auditório Kursaal em San Sebastián (norte da Espanha).

O quinto longa-metragem do cineasta portenho, um dos dois filmes argentinos que competem pela Concha de Ouro, conta a história de Malena, uma médica que viaja a um povoado da Argentina rural e pobre quando a mulher que lhe dará seu bebê em adoção está prestes a dar à luz, em um processo legalmente turvo.

Ainda se recuperando da perda de um filho, Malena se depara com uma série de obstáculos, legais e morais, e no final terá que decidir até onde está disposta a chegar para adotar o bebê.

Protagonizado pela espanhola Bárbara Lennie, o filme aborda "um vazio legal, uma ausência do Estado que permite a proliferação de questões em torno da adoção, somada a um sistema de adoção que não funciona" na Argentina, disse o diretor em coletiva.

Não há respostas fáceis e o filme não tenta "passar uma mensagem", mas sim interpelar o público: "o que você faria no lugar de Malena?", disse Lerman, cuja equipe realizou um trabalho de pesquisa com entrevistas a mulheres que passaram por esta situação.

"Até que ponto se pode chegar por amor, embora não seja um amor totalmente saudável?", questionou Lennie, filha de argentinos que no filme fala com um convincente sotaque portenho. O filme "fala de uma fuga para frente, até que (Malena) já não consegue mais; a única forma que tem de continuar viva é permanecer nesta luta".

- Schwarzenegger comprometido -Além de "Una especie de familia", "Alanis", da cineasta argentina Anahí Berneri, concorre ao prêmio de melhor filme do festival, ao qual aspiram também outros 16 longa-metragens, entre eles a sátira hispano-mexicana "El autor", de Manuel Martín Cuenca, e o drama de época "Handia", dos bascos Jon Garaño e Aitor Arregi.

Nesta segunda-feira, fora das salas de cinemas, os flashes foram direcionados ao ator Arnold Schwarzenegger, que caminhou pelo tapete vermelho para promover o documentário sobre a proteção dos oceanos do filho do explorador Jacques Cousteau, "Wonders of the Sea 3D" ("Maravilhas do mar 3D"), do qual é produtor e narrador.

Comprometido com a defesa do meio ambiente, o astro de "O Exterminador do Futuro" se negou a fazer comentários políticos, porque na sua opinião a luta ecológica "não deve ser" politizada.

"Estamos falando de salvar vidas e proteger o meio ambiente. Independentemente do seu pertencimento a um partido, todo mundo quer respirar ar limpo e beber água limpa", disse o ex-governador da Califórnia, crítico da política ambiental de Donald Trump, que promove a queima de combustíveis fósseis.

O festival de San Sebastián, que está na sua 65ª edição e é considerado o de maior peso no mundo hispânico, conta com a seção "Horizontes", que premia o melhor filme latino-americano do ano.

Nessa categoria foi apresentado nesta segunda-feira o filme "Los perros", da chilena Marcela Said, uma complicada relação amorosa em um Chile que ainda não se recuperou da ditadura, que já foi mostrado na Semana da Crítica de Cannes; e "Las olas", uma viagem fantástica de um homem que volta a várias praias que visitou no passado, do uruguaio-argentino Adrián Biniez.

Ambos concorrem com outros 10 longa-metragens de Argentina, Brasil, Costa Rica, México, República Dominicana e Venezuela.

Após a diretora francesa da Nouvelle Vague Agnès Varda receber no domingo o prêmio honorário "Donostia", na terça-feira será a vez do ator argentino Ricardo Darín, e na quarta-feira da italiana Monica Bellucci.