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Em país onde homossexualidade é crime, revista desafia homofobia na Nigéria

Richard Akuson se rebela contra a homofobia da Nigéria - Reprodução/Instagram
Richard Akuson se rebela contra a homofobia da Nigéria Imagem: Reprodução/Instagram

Lagos (Nigéria)

31/08/2017 15h57

Em um país onde a homossexualidade pode ser punida com até 14 anos de prisão, Richard Akuson decidiu desafiar as normas estabelecidas na Nigéria criando a revista "A Nasty Boy" (Um garoto safado, em tradução livre), onde analisa a masculinidade e a questão de gênero.

A revista, lançada em fevereiro, levou Akuson, de 23 anos, a uma fama que não parou de crescer nos últimos meses.

Tudo começou com um short justo.

"Um dia, encarei o desafio de passear um dia inteiro pelas ruas de Abuja [a capital federal] vestido com um short de seda", conta à AFP. "As pessoas me olhavam feio, me insultavam abertamente. Foi uma experiência bastante dolorosa", lembra.

Assim, decidiu relatar sua experiência em Bella Naija, a maior revista de fofoca da Nigéria, onde trabalhava então como redator-chefe da área de Moda.

Sua publicação "Porque decidi passear por Abuja com short justo" causou um grande alvoroço: os comentários não demoraram a chegar, tanto para tentar fazê-lo voltar à razão quanto para parabenizá-lo por sua atitude provocadora.

Richard Akuson decidiu desafiar as normas com a revista "A Nasty Boy" - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Richard Akuson decidiu desafiar as normas com a revista "A Nasty Boy"
Imagem: Reprodução/Instagram


"Vi as reações, e pensei que havia um verdadeiro debate a ser iniciado para analisar nossa masculinidade", explica Akuson.

"O homem nigeriano deve proteger, sem cessar, isso que nossa sociedade define como masculinidade: não chorar, ter um ego muito, muito grande, pouca compaixão e muito dinheiro. Paradoxalmente, penso que isso é o que faz com que [os homens aqui] sejam muito frágeis e tão rígidos com os demais", afirma, satisfeito de não fazer parte da maioria.

Andróginos

Akuson, conhecido como "Richie", organizou uma sessão de fotos em um hotel um pouco afastado de Lagos, a megalópole econômica e cultural do oeste da África.

Com seus quatro modelos andróginos, dois homens e duas mulheres, o redator-chefe quer "transgredir os gêneros".

"Abstrakt, o que você achar de colocar um vestido?", pergunta.

E embora Abstrakt, de 21 anos, não goste que lhe rotulem e use uma camiseta com a frase "Na verdade não sou normal" estampada, a ideia de colocar uma saia não parece entusiasmá-lo.

Ainda assim, faz isso "pela moda" que causa furor em Lagos há alguns anos, assegura. E também para dar um pontapé nos convencionalismos. 

Controvérsia

"Adoro a controvérsia, sempre fui rebelde", explica Ajoke Animashaun, estudante de Direito e modelo. "Na Nigéria, somos muito conservadores. As meninas devem estar sempre bem vestidas, com as unhas feitas (...) pois veja só, eu não!", diz, divertida.

E embora a falta de manicure possa parecer um mero detalhe, em Lagos se trata de um ato feminista quase revolucionário.

As fotos publicadas na revista on-line, que passará para o papel em alguns meses, são desconcertantes em um país onde tudo que é relacionado à homossexualidade, à bissexualidade ou à mistura de gêneros é visto como uma abominação do ponto de vista religioso.

Homens maquiados posam em uma praia de Lagos, com um olhar que transpira sensualidade. Em outro artigo, homens como perucas afro e sapatos de salto alto levantam sua minissaia jeans.

"Nasty Boy oferece a oportunidade de mostrar uma faceta do que somos", indica o jovem Wole Lawal, modelo profissional de 22 anos com voz grave, com o rosto cheio de purpurina e uma calça larga colorida.

"Isso nos permite imaginar, por um momento, o que implica ser mulher. E, devo dizer, (...) realmente não parece fácil", afirma.