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Jeanne Moreau, símbolo do cinema francês, morre aos 89 anos

31/07/2017 14h52

Paris, 31 Jul 2017 (AFP) - Jeanne Moreau, uma das atrizes mais emblemáticas do cinema francês e musa da Nouvelle Vague, faleceu em Paris aos 89 anos.

Moreau, que atuou em mais de 100 filmes ao longo de uma carreira de 65 anos, incluindo "Amantes", de Louis Malle, "Jules e Jim", de François Truffaut, e "O Diário de uma Camareira", de Luis Buñuel, foi encontrada morta em sua residência na capital francesa, informou seu agente, confirmando uma notícia da revista Closer.

De acordo com várias fontes, o corpo foi encontrado na manhã desta segunda-feira por uma pessoa que trabalhava na limpeza da casa.

"Se foi uma parte da lenda do cinema", afirmou o presidente francês Emmanuel Macron em um comunicado, no qual descreve Moreau como uma mulher "livre, rebelde e a serviço das causas nas quais acreditava".

A ministra da Cultura, Françoise Nyssen, completou: "Ela se foi, mas sua voz, sua genialidade, sua visão de mundo prevalecerão".

Seu talento, beleza fora do comum e voz profunda fascinaram grandes cineastas, como Joseph Losey ("Eva"), Wim Wenders ("Até o Fim do Mundo") e Orson Welles ("História Imortal"), que a descreveu como "a melhor atriz do mundo".

Ela também dirigiu dois filmes: "No Coração, a Chama" (1976) e "O Adolescente" (1979).

"Tenho dentro de mim uma espécie de energia que não controlo", explicou a artista, para quem o cinema "não era uma carreira, e sim uma vida".

"Para mim, o cinema nunca foi uma indústria. Não me importa meu valor na bilheteria", afirmou uma vez.

Moreau, que trabalhou até os 87 anos, pensava que com o tempo e o sucesso fazer seu trabalho estava se tornando cada vez mais difícil, sobretudo diante da "tentação, à qual não se deve ceder, de fazer qualquer coisa para agradar o público, ao invés de fazer aquilo com o que estamos profundamente de acordo".

- Ícone feminista -Jeanne Moreau, que em 2001 se tornou a primeira mulher eleita para a Academia de Belas Artes de Paris, interpretou várias mulheres rebeldes, inconformadas e à margem da sociedade.

Em "Duas Almas em Suplício", de Peter Brook, que lhe rendeu o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes em 1960, deu vida a uma mulher da burguesia insatisfeita, atormentada.

Protagonista de "Jules e Jim", de François Truffaut (1962), um dos filmes mais cultuados da Nouvelle Vague, encarnou uma mulher livre e moderna, enquanto em "A Noiva Estava de Preto" (1967) matou cinco homens por vingança a sangue frio.

Seu trabalho foi recompensado nas últimas décadas com prêmios importantes. Em 1998 recebeu um Oscar honorário pelo conjunto de sua carreira das mãos de Sharon Stone. Dez anos depois recebeu um "Super César", uma homenagem da Academia de Cinema francesa.

Jeanne Moreau começou sua carreira no teatro aos 19 anos. Desafiando os desejos de seu pai, dono de um restaurante, integrou a Comédie-Française e participou em 1947 no primeiro Festival de Avignon, ao qual retornou em diversas ocasiões, a última em 2010.

No teatro deu vida a textos de Jean Cocteau, Frank Wedekind ou Heiner Müller, sob a direção de grandes diretores (Brook, Vitez, Régy, Grüber).

Com sua voz inimitável, ela também se arriscou no mundo da música, com a interpretação de "Le Tourbillon", canção de "Jules e Jim", ou a canção do filme "India Song" de sua amiga Marguerite Duras.

- Encontro com o amor -Jeanne Moreau se casou duas vezes, a primeira em 1949 com o cineasta Jean-Louis Richard, com quem teve um filho, Jérôme. O segundo matrimônio, com o diretor americano William Friedkin, durou dois anos.

Apesar dos seus dois divórcios, não deixou de buscar ao longo da sua vida um "amor profundo", em um grande número de relações sentimentais, incluindo com o cineasta Louis Malle e o estilista Pierre Cardin.

"Minha vida foi cheia de experiências para aprender o que é amar", dizia.

Repetia com frequência que era ela que terminava seus relacionamentos, já que preferia abandonar do que ser abandonada.

Sua ruptura com Malle foi particularmente difícil. "Amantes" foi "o primeiro filme feito para mim. É um encontro com o amor", indicou, sugerindo que o filme não teria sido feito se ela e o diretor não tivessem sido amantes na vida real.

Seu encontro com Pierre Cardin, cuja homossexualidade não era segredo, foi amor à primeira vista. "Eu o vi e foi imediato. Queria voltar a vê-lo", contou a Marguerite Duras. "Sabia que ele podia amar uma mulher. Eu tinha que ser paciente, suave, não fazer com que tivesse medo".

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