Novo romance de Isabel Allende sugere a esperança no sombrio EUA de Trump
"Más Allá Del Invierno" é uma história de esperança nos Estados Unidos de Donald Trump, que fez aparecer "o pior da sociedade americana", afirmou a escritora chilena Isabel Allende, ao apresentar nesta segunda-feira (05) seu novo romance em Madri.
Sem poupar críticas a Trump, "o pior que pode acontecer a um país", Allende disse em entrevista coletiva que sua última obra, lançada no dia 1 de junho na América Latina e na Espanha, tem uma "carga política inevitável" diante dos incertos tempos atuais.
Com mais de 67 milhões de livros vendidos de uma obra traduzida a 35 idiomas, Allende trata em seu novo livro da situação dos imigrantes e refugiados nos Estados Unidos através do personagem de Evelyn Ortega, uma jovem guatemalteca em situação irregular.
Ambientado em Nova York, o livro companha durante três dias acontecimentos que mudarão para sempre o trio, formado pela protagonista, por Ortega, um professor universitário americano que decide ajudá-la, e por uma vizinha jornalista chilena.
O tema do livro, nascido de um encontro de Albert Camus ("No meio do inverno aprendi por fim que há em mim um verão invencível"), é "a capacidade de renascer, de recomeçar, de sempre haver esperança e otimismo" (tradução livre), algo aplicável, na opinião de Allende, tanto a pessoas como a países.
Esse otimismo atualmente é fundamental nos Estados Unidos, onde "o pior da sociedade americana está emergindo com Trump", disse a escritora chilena, residente na Califórnia desde o final de 1980.
"Há uma emergência de todas aquelas coisas que se mantinham caladas, que existiam, mas que as pessoas não se atreviam a manifestar, de xenofobia, racismo, supremacia branca, misoginia", lamentou a autora de títulos de sucesso como "A Casa dos Espíritos" e "Eva Luna".
Defesa do imigrante
Dura crítica de Trump, Allende chegou a brincar que o presidente americano "não sabe ler", ao ser perguntada sobre qual de seus livros ela lhe recomendaria.
Trump quer "construir essa muralha chinesa" na fronteira com o México e "pensa em deportar 11 milhões de pessoas" indocumentadas, o que disparou "uma sensação de medo" entre os imigrantes nos Estados Unidos, disse Allende.
"Vocês conhecem centenas e centenas de casos de imigrantes" e o personagem de Evelyn "é a síntese de vários casos", explicou.
Ela mesma, exilada da ditadura militar do Chile, defendeu as pessoas que partem em busca de um futuro melhor: "ninguém deixa tudo o que tem porque quer, e sim porque está fugindo de algo".
Apaixonada
"Quem são os que emigram? Gente jovem, disposta a trabalhar, gente criativa que tem valor e coragem, gente que vem enriquecer a sociedade, não vem nos tirar nada", disse Allende, reconhecendo que no Chile também tem aflorado o racismo com a recente chegada de estrangeiros.
Sem ocultar sua antipatia por Trump, Allende confessou que, quando ele ganhou as eleições, chegou a cogitar deixar o país, mas conheceu um americano pelo qual se apaixonou.
Este homem a ajudou a sair de "uma espécie de inverno" pessoal, em que vivia desde que se separou de seu companheiro por 28 anos.
O homem lhe enviou mensagens todas as manhãs e todas noites durante cinco meses, mas aos 74 anos, sem tempo a perder, a escritora não hesitou em perguntar-lhe diretamente quando saíram para comer juntos: "Te interessa algo mais do que uma amizade?".
"Este pobre senhor não teve chance de escapar", brincou.
Allende acredita que, assim como ela, que venceu o "inverno" pessoal, os Estados Unidos conseguirão superar "o inverno político" que atravessa e chegarão a "um verão invencível".
Considerada uma das escritoras latino-americanas mais populares no mundo, Allende recebeu em 2014 a máxima condecoração civil americana, a Medalha da Liberdade, das mãos de Barack Obama.
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