Nova lei chinesa de cibersegurança preocupa as empresas estrangeiras
Pequim, 31 Mai 2017 (AFP) - A China começará a aplicar na quinta-feira uma nova lei de cibersegurança que reforça ainda mais sua "Grande Muralha" virtual, uma medida que preocupa as empresas estrangeiras que realizam negócios na segunda maior economia do planeta.
A lei, adotada em novembro, tem o objetivo de proteger as redes chinesas e a informação dos usuários, em um contexto de novas ameaças como o recente ciberataque mundial do 'ransomware' WannaCry, um programa que assume o controle dos dados de um computador e pede um resgate para a devolução.
Várias empresas estrangeiras pediram ao governo chinês o adiamento da aplicação da lei, pois temem o efeito de alguns dispositivos pouco claros sobre o armazenamento na nuvem ou o tratamento de dados pessoais.
Há algumas semanas, o diretor da Administração Chinesa de Cibersegurança (CAC), Zhao Zeliang, reuniu 200 representantes de empresas e associações profissionais locais e estrangeiras na sede do organismo em Pequim.
O debate se concentrou nas normas de transferência de dados pessoais ao exterior, informaram à AFP alguns participantes, e alguns dispositivos polêmicos foram retirados.
Um novo documento consultado pela AFP não inclui, por exemplo, um dispositivo que obrigava as empresas a conservar na China os dados pessoais de seus clientes.
De acordo com um participante na reunião que pediu anonimato, as autoridades chinesas "não estão preparadas" para aplicar a lei e é "muito improvável" que aconteçam mudanças na legislação que será aplicada a partir de 1 de junho.
A China já monitora de maneira rígida a internet e bloqueia sites que considera politicamente sensíveis, um sistema conhecido como "The Great Firewall" (um jogo de palavras com "The Great Wall", A Grande Muralha em inglês), que no entanto não impediu que universidades chinesas fossem afetadas pelo WannaCry.
A nova lei proíbe, entre outras coisas, a publicação na internet de conteúdo que atente contra a "honra nacional", que afete a "ordem econômica ou social" ou que tenha o objetivo de "derrubar o sistema socialista", ou seja, o Partido Comunista que governa o país.
Paul Triolo, especialista de cibersegurança na empresa de consultoria americana Eurasia Group, acredita que a China provavelmente vai impor "novos obstáculos para cumprir (com a lei) e para as atividades" de empresas que se dedicam ao 'cloud computing', um setor em que a China deseja promover suas próprias companhias.
"As empresas com concorrentes bem conectados politicamente poderiam ter resultados melhores em inspeções de cibersegurança", escreveu Triolo em uma nota
A Câmara de Comércio da União Europeia (UE) na China, assim como outras organizações, pediu a Pequim na semana passada o "adiamento da aplicação da lei ou de seus artigos mais relevantes, porque imporá obrigações substanciais de conformidade na indústria".
"É muito complicado para nossas empresas preparar-se (...) porque muitos elementos da lei são pouco claros", lamentou Jake Parker, vice-presidente para a China do US-China Business Council.
"As empresas não têm informações suficientes para poder elaborar práticas internas em conformidade com a lei", disse.
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