Joaquin Phoenix dá o toque final a um Festival de Cannes 'obscuro'
Cannes, França, 27 Mai 2017 (AFP) - Se o cinema é o reflexo do mundo atual, o Festival de Cannes apresentou um panorama obscuro, especialmente para a alma humana, como no último filme em disputa exibido neste sábado - o aclamado "You were never really here", com Joaquin Phoenix.
Para a crítica, a atuação do americano na produção da britânica Lynne Ramsay ("Precisamos falar sobre Kevin") o colocou entre os favoritos ao prêmio de interpretação masculina, junto ao britânico Robert Pattinson ("Good Time"), o francês Jean-Louis Trintignant ("Happy end") e o argentino Nahuel Pérez Biscayart ("120 battements par minute").
Phoenix encarna um homem atormentado, brutal com seus inimigos, e tenro com sua mãe idosa, que vive executando trabalhos sujos em prol de uma causa nobre: resgatar menores de idade das redes de prostituição. Violento, explícito e intenso, o filme envolve o telespectador.
A maratona cinematográfica de Cannes chega ao fim com esta produção e o júri presidido por Pedro Almodóvar revelará no domingo o 70º vencedor da Palma de Ouro da maior mostra do cinema mundial.
- Os favoritos -A crítica já tem os seus favoritos, embora muitas vezes seu veredicto não antecipe a escolha final. Mas ela também está dividida: a francesa defende "120 battements par minute", de Robin Campillo, que narra a ação da Act Up, uma associação que nos anos 1990 lutou na França para que o governo abrisse os olhos e agisse diante da epidemia da aids.
Pérez Biscayart interpreta um dos membros da associação que está infectado pelo vírus, e namora um novo integrante do grupo, que não tem a doença. Uma história de amor que aborda paralelamente os debates e os feitos da Act Up.
"Sua atuação é muito, muito boa. As pessoas deixam a sala completamente emocionadas", opinou à AFP o crítico francês Pierre Vavasseur.
A crítica anglo-saxã e europeia se rendeu a "You were never really here", embora também se incline por "Loveless", do russo Andrei Zvyaguintsev, um drama sobre um casal que está se divorciando e que não tem nenhum afeto por seu filho de 12 anos, mas que terá que continuar junto para encontrá-lo quando ele desaparece.
Este drama abriu o festival e pareceu marcar o tom obscuro da competição oficial: crianças diabólicas como em "The killing of a sacred deer", do grego Yorgos Lanthimos; "Happy end", de Michael Haneke, que disputa sua terceira Palma de Ouro, e aborda histórias cujo fio condutor é a violência; assim como a alemã "In the fade" e a americana "Good time"; e as reflexões sobre a desumanização da sociedade, como a húngara "Jupiter's moon" e a sueca "The square".
- O cinema em crise? -Independentemente do tom, a crítica não pôde evitar mostrar uma certa frustração nesta edição do Festival de Cannes, meca do cinema autoral: "normalmente sou uma pessoa indulgente, contente com as seleções de Cannes [...] e este ano sou o primeiro a dizer que não é uma seleção de alto nível", disse Vavasseur.
O crítico Jonathan Romney, da revista Screen International, que há quase 30 anos participa do Festival, disse que nesta 70ª edição "havia muitos nomes que geraram grande expectativa, mas infelizmente nos decepcionaram".
"Talvez haja uma falta de energia e de espírito aventureiro nestes momentos a nível global. Às vezes o cinema passa por períodos assim", disse Romney.
Mas os críticos se mostraram mais entusiasmados com duas atrizes, que irão competir pelo prêmio de melhor interpretação: Nicole Kidman, indicada em dois filmes que protagoniza: ("O estranho que nós amamos", de Sofia Coppola, e "The killing of a sacred deer") e a alemã Diane Kruger ("In the fade", do germano-turco Fatih Akin).
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