Começa competição em Cannes com drama russo sobre a desumanização da sociedade
Cannes, França, 18 Mai 2017 (AFP) - "Loveless", do russo Andrei Zvyaguintsev, um drama que denuncia uma Rússia desumanizada, e o filme com ar de fábula "Wonderstruck", de Todd Haynes, abrirão nesta quinta-feira a competição oficial do Festival de Cannes.
O diretor russo retorna à Croisette com "Loveless" ("Nelyubov"), seu quinto longa-metragem, que continua a se aprofundar sobre a situação no país, que ele descreve como afundado no individualismo e na hipocrisia, sem valores ou sentimentos.
"Não posso me imaginar fazendo algo que não me emocione. O que quero tratar são os problemas, que acredito serem importantes", declarou em entrevista coletiva Zvyaguintsev, que disse ter se inspirado em uma história real para escrever o roteiro.
Para capturar essa Rússia desumanizada, o cineasta opta por um retrato comovente de uma família despedaçada. Boris e Zhenya são um casal de classe média moscovita que, depois de anos de casamento, não se suporta mais e decide se separar.
Cada um tem um novo projeto de vida, ele ao lado de uma jovem grávida e ela com um homem acomodado. Contudo, ainda vivem sob o mesmo teto e, o mais importante, precisam decidir o que fazer com seu filho Aliocha, de 12 ano, que é visto como um empecilho para seu futuro.
Em um ambiente de tensão, o jovem é testemunha de discussões e, finalmente, depois de um confronto violento, foge. Os pais então são confrontados com sua busca. A polícia, sem meios suficientes, pouco pode fazer e é uma associação de voluntários dedicada a encontrar pessoas desaparecidas que assume o caso.
Inspirado por "Cenas de um Casamento" de Ingmar Bergman, Zvyaguintsev filma sobriamente este casal, sempre conectado aos seus telefones celulares.
Com imagens de grande beleza, Zviaguintsev mostra paisagens desoladoras, edifícios em ruínas, blocos de apartamentos, todos esses lugares inóspitos onde o menino pode ter se escondido, reflexo de um país insensível.
"A perda do filho por seus pais é para a Rússia uma metáfora da perda do relacionamento natural e normal com o nosso vizinho mais próximo, a Ucrânia", declarou o diretor russo em referência ao conflito no leste ucraniano.
A complexidade da infânciaOutro dos filmes a disputar a Palma de Ouro apresentado nesta quinta-feira é "Wonderstruck", do americano Todd Haynes.
Baseado no livro infantil homônimo de Brian Selznick, o filme conta de forma intercalada a história de duas crianças surdas que partem sozinhas para Nova York em busca de seus pais, em dois momentos distintos, 1927 e 1977.
Haynes expõe a complexidade da infância, com toda a sua vulnerabilidade e força, neste drama com ar de fábula que conta com Julianne Moore e Michelle Williams no elenco.
O cineasta americano assumiu uma série de desafios técnicos: trabalhar com crianças, filmar duas épocas - uma em preto e branco e outra em cores - e fazer um filme em parte mudo para refletir a surdez de seus protagonistas.
"Nada foi fácil neste filme", admitiu Haynes, cujo filme anterior, "Carol", foi apresentado há dois anos no Festival de Cannes e recebeu seis indicações ao Oscar.
Além disso, o filme chileno "Los perros" de Marcela Said, abriu a Semana da Crítica, uma mostra paralela independente dedicada a novos talentos.
Said, que já esteve na Quinzena dos Realizadores em 2013 com seu primeiro filme, "El verano de los peces voladores", agora apresenta a história de uma mulher de meia idade burguesa que se sente atraída por seu professor de equitação, um ex-coronel que trabalhou na polícia secreta de Augusto Pinochet.
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