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Os escândalos do Festival de Cannes

15/05/2017 10h16

Paris, 15 Mai 2017 (AFP) - Batalhas de estilo, contestação política ou acessos de raiva. Em 70 edições, muitos escândalos atingiram a história do Festival de Cannes e contribuíram, também, para sua lenda.

- "Dolce Vita"/"Avventura": escândalos à italiana -Em 1960, "L'Avventura" ("A Aventura"), de Michelangelo Antonioni, desconcerta o público ao lançar pelos ares as convenções narrativas clássicas. A projeção é um desastre. O filme é vaiado, a atriz, Monica Vitte, começa a chorar. Trinta e sete artistas, incluindo Roberto Rossellini, enviam uma carta de apoio a Antonioni, que recebe o Prêmio do Júri.

Retrato deslumbrante de uma Itália desencantada, "La Dolce Vita" ("A Doce Vida"), de Federico Fellini, chega no mesmo ano a Cannes precedida de um cheiro de enxofre. O Vaticano condena um filme decadente, rebatizado por ele de "La sconcia vita" (A vida repugnante). Apoiado pelo presidente do Júri, o romancista Georges Simenon, leva a Palma de Ouro.

- O ambiente de maio de 1968 inunda Cannes - No dia 10 de maio de 1968, enquanto Paris se cobre de barricadas, as estrelas se encontram no 21º Festival de Cannes. Os ventos do protesto cruzam rapidamente as portas do festival. Truffaut, Godard, Lelouch propõem interromper o festival e ocupar o palácio. Cineastas contestatários detêm uma projeção; os membros do júri renunciam, os diretores retiram seus filmes da competição. O Festival de Cannes de 1968 será uma manifestação sem vencedor.

- Cannes digere mal "A Comilança" - Em 1973, a seleção francesa comove a Croisette. Cru e provocativo, "La maman et la putain" ("A mãe e a puta"), de Jean Eustache, divide a crítica e os presentes no Festival. A investida verbal do triângulo amoroso de Jean-Pierre Léaud, Françoise Lebrun e Bernadette Laffont é classificada de "obra-prima" por uns e de "escândalo" por outros.

E isso não é nada comparado com "La grande bouffe" ("A Comilança"), de Marco Ferreri. O suicídio coletivo em forma de festa gigantesca de Marcello Mastroianni, Michel Piccoli, Philippe Noiret e Ugo Tognazzi provoca assobios, vaias, náusea, mas também aplausos por esta feroz crítica à sociedade de consumo.

Os dois filmes levam o prêmio da crítica internacional e "A mãe e a puta" o Grande Prêmio Especial do Júri.

- Os fotógrafos ignoram Adjani -Em 1983, Isabelle Adjani, protagonista feminina de "L'été meurtrier" ("Verão assassino"), deixa os jornalistas na mão ao se negar a comparecer à tradicional coletiva de imprensa. Privados de suas imagens, os fotógrafos se vingam na mesma noite.

Para protestar contra o capricho da artista, deixam suas lentes no chão e lhe dão as costas quando sobe as escadas do Palácio dos Festivais para a projeção oficial.

- O punho ameaçador de Pialat -No dia 20 de maio de 1987, Maurice Pialat coloca fim a 21 anos de penúria para os diretores franceses ao ganhar a Palma de Ouro por "Sous le soleil de Satan" ("Sob o sol de Satã"), adaptado do livro de Georges Bernanos. Mas o prêmio foi mal recebido pelos presentes no Festival, que lançam assobios. No palco do Palácio dos Festivais, o irascível cineasta alfineta: "Vocês não gostam de mim, pois saibam que também não gosto de vocês", com o punho cerrado.

- Lars von Trier, persona non grata -Em 2011, Lars Von Trier, que participava com "Melancholia" ("Melancolia"), provoca polêmica com comentários ambíguos sobre Hitler e o nazismo. Na coletiva de imprensa, expressa sua "simpatia" por Hitler e declara que "Israel é um pé no saco".

Apesar de seu pedido de desculpas, a direção do festival declara o diretor dinamarquês "persona non grata", uma sanção sem precedentes.

"Melancolia" segue, no entanto, em competição e a atriz americana Kirsten Dunst recebe o prêmio de melhor interpretação feminina por seu papel no filme.

O diretor dinamarquês, premiado em 2000 com a Palma de Ouro por "Dancer in the dark" ("Dançando no escuro"), não foi convidado ao Festival desde então.