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Os tradutores a serviço da diversidade linguística

05/05/2017 14h55

Paris, 5 Mai 2017 (AFP) - A tradução é o principal meio de comunicação do mundo e permite a existência e compreensão de 6.000 a 7.000 idiomas falados no planeta, inclusive a sobrevivência de 3.000 línguas em perigo de extinção.

"Sem a tradução, não há nenhuma história da humanidade", afirma a linguista Astrid Guillaume, da Universidade da Sorbonne, em Paris.

"Se conhecemos as histórias e culturas do mundo é por causa das traduções", enfatiza.

Traduzir vem do latim "traducere", que significa "fazer passar de um lugar para o outro".

A seguir, três exemplos desses "passadores" a serviço da diversidade linguística:

Da Bretanha para o mundoOriginária de uma família de camponeses de Finistère (oeste da França), onde se falava bretão, Rozenn Milin poderia ter sido tradutora de suas duas línguas. Mas ela optou pela salvaguarda das línguas raras do mundo com seu projeto Sorosoro.

Sorosoro é uma palavra em araki - uma das múltiplas línguas do arquipélago de Vanuatu, na Oceania, com menos de 10 falantes - que significa alento, palavra e língua.

O objetivo deste projeto é preservar vestígios sonoros de línguas do mundo em perigo, filmando no local as pessoas que ainda falam os idiomas e arquivando os documentos, após a tradução, no Instituto Nacional do Audiovisual (INA), um organismo público francês de arquivos audiovisuais.

Os tradutores têm um papel essencial no projeto, pois transcrevem horas de filmagens de histórias, canções ou cerimônias rituais, explica Rozenn Milin.

"É um trabalho considerável e complicado porque é preciso encontrar moradores que também dominem o inglês, francês ou espanhol para traduzir as faixas sonoras em condições geralmente difíceis", prossegue.

Tradução sem vozNo mundo dos surdos, a linguagem dos sinais não é universal.

"Existem tantas línguas como países", explica Ronit Leven, vice-presidente da Federação Nacional dos Surdos da França, que também é surda e interpreta várias línguas de sinais.

Há uma linguagem dos sinais internacional (LSI), uma espécie de esperanto, inspirada em várias línguas de sinais (sobretudo europeias) e que é utilizada nas reuniões internacionais.

"Mas nada é melhor que entender e expressar-se em sua própria língua dos sinais", afirma Ronit, que atua com frequência como intérprete de uma linguagem de sinais para outra nas reuniões internacionais.

Os sinais geralmente não têm nada a ver uns com os outros, inclusive nas palavras mais básicas.

IA a serviço da traduçãoA tradução automática teve durante muito tempo uma reputação ruim por seus erros de interpretação ou graves falhas sintaxe.

No livro "Google-moi", a filósofa francesa Barbara Cassin contou, em 2007, como a frase bíblica "E Deus criou o homem à sua imagem", depois de passar pelo tradutor do Google do alemão para o francês se estabilizava após duas idas e vindas em "E o homem à sua imagem criou um deus".

A experiência não é mais possível atualmente porque a tradução obtida com este mesmo tradutor automático é agora "boa, coerente, consequente", reconhece a autora em seu livro mais recente, "Eloge de la traduction" (Elogio da tradução, 2016).

A qualidade da tradução deve seguir melhorando graças aos progressos da inteligência artificial, em particular pela aplicação do mecanismo de "deep learning", pelo qual a máquina aprende progressivamente e imita com suas "redes de neurônios artificiais" o funcionamento de um cérebro humano.

Pioneira há 40 anos na tradução automática, a empresa francesa Systran (agora propriedade da sul-coreana CSLi) lançou no fim de 2016 um sistema deste tipo. Assegura que a qualidade da tradução obtida, após um "aprendizado" da máquina durante várias semanas, é "próximo do humano".

"Estamos no início de uma nova era que abre boas perspectivas na comunicação multilíngue", comemora o diretor técnico da Systran, Jean Senellart.