I. M. Pei, o arquiteto centenário da polêmica pirâmide do Louvre
Agora é uma marca registrada, mas a pirâmide de vidro do museu do Louvre, em Paris, chegou a indignar muitos franceses quando foi concebida nos anos 1980 pelo arquiteto sino-americano Leoh Ming Pei, que nesta quarta-feira (25) completará 100 anos.
O ex-presidente François Mitterrand apostou alto quando encomendou, em 1983, ao brilhante arquiteto, que praticamente só havia construído nos Estados Unidos, a modernização do maior museu do mundo, antigo palácio dos reis da França.
O dirigente socialista foi seduzido pela nova ala da National Gallery de Washington, construída por Pei em 1978, cinco anos antes dele ganhar o prêmio Pritzker, o "Nobel da arquitetura".
Para Pei, nascido em Cantão (China) e formado no Instituto de Tecnologia de Massachussetts (MIT) e em Harvard, se tratava não só do seu primeiro projeto na Europa, mas também da sua primeira intervenção em um monumento tão carregado de história.
Pei, que foi aluno de Walter Gropius, fundador da escola Bauhaus, partiu de uma simples constatação: o Louvre é um "museu estranho cuja entrada é invisível porque é lateral. Necessita de uma entrada central".
Imaginou, então, um complexo subterrâneo, com um acesso por uma rampa. Depois, acrescentou a famosa pirâmide de 21 metros de altura na esplanada do museu.
A apresentação da maquete gerou uma onda de críticas, encabeçada pelos jornais Le Monde e Le Figaro.
Quase 30 anos depois, o ex-ministro da Cultura Jack Lang ainda se diz "surpreso pela violência dos opositores" ao projeto. A polêmica foi maior até mesmo que a suscitada pelo Centro Pompidou, outro grande museu parisiense inaugurado em 1977, cuja arquitetura era muito mais vanguardista que a do Louvre.
"Emblema de Paris no mundo"Um dos episódios mais difíceis para Pei foi a sua passagem ante a Comissão Superior dos Monumentos Históricos, em janeiro de 1984. O ambiente era hostil e alguns comentários beiravam o racismo contra os chineses.
"Foi uma sessão terrível", explicou o arquiteto, que não pôde nem apresentar seu projeto. "Isto não é Dallas!", gritou um dos participantes.
Apesar disso, o projeto seguiu e Pei fez a pirâmide com um vidro fabricado pela empresa francesa Saint Gobain, até então utilizado apenas em pequenas superfícies.
"Pei tinha imaginado o vestíbulo sob a pirâmide como um espaço entre a cidade e as coleções, entre o exterior e as obras", lembra o presidente do Louvre, Jean-Luc Martinez, que recentemente remodelou o lugar, com o consentimento do arquiteto.
Por que estas últimas transformações? O projeto de Pei foi concebido para uma frequência de dois milhões de pessoas por ano, enquanto atualmente nove milhões visitam o local. "Eram necessárias certas mudanças para devolver a pirâmide ao seu público", explica Martinez.
Para o presidente do Louvre, a pirâmide se tornou o "símbolo da modernidade do museu", e ao mesmo tempo "um emblema de Paris no mundo".
"O trabalho de Pei foi elevado ao status de ícone, como a Mona Lisa, a Vênus de Milo e a Vitória de Samotrácia", obras estrela do museu, aponta.
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