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Iraque: Em ruínas, museu de Mossul é perdido para sempre

Forças iraquianas inspecionam os estragos dentro do museu de Mossul - AFP / AHMAD AL-RUBAYE
Forças iraquianas inspecionam os estragos dentro do museu de Mossul Imagem: AFP / AHMAD AL-RUBAYE

Mossul (Iraque)

17/03/2017 12h38

Uma montanha de pedras na penumbra do que foi o museu de Mossul, agora em ruínas, é tudo o que resta dos dois touros alados assírios destruídos pelos extremistas do grupo Estado Islâmico (EI).

As forças de segurança iraquianas recuperaram este edifício no âmbito de sua ofensiva no oeste de Mossul, para expulsar os extremistas.

Uma vitória simbólica, já que o grupo extremista devastou em massa e com britadeiras estátuas antigas e tesouros pré-islâmicos do museu da segunda cidade do Iraque, gravando esta ação em um vídeo publicado em fevereiro de 2015.

Os danos são irreversíveis. Nada escapou aos extremistas, que também destruíram vários sítios arqueológicos em Iraque e Síria, quando não praticavam o tráfico de antiguidades para financiar suas atividades.

No edifício em ruínas, uma montanha de pedras ocupa agora o lugar onde os turistas admiravam antes dois imponentes "lamassu" - figura mitológica assíria.

"Estes touros alados assírios com cabeça humana mediam mais de dois metros de altura e pesavam mais de quatro toneladas", conta a arqueóloga iraquiana Layla Salih.

Entre os escombros é possível identificar o que parecem ser patas e restos alados. Em outras pedras são observadas inscrições em alfabeto cuneiforme.

De vez em quando, uma explosão abala o edifício de pedra de cor ocre, enquanto as forças de segurança iraquianas lançam foguetes contra as posições do EI.

"Além dos dois "lamassu", o museu abrigava um leão alado de proporções similares", explica Salih.

As três esculturas "formavam parte das peças mais valiosas do museu", lamenta. "Antiguidades que pesam mais de quatro toneladas, era impossível para eles roubá-las, então as destruíram no próprio museu".

Forças iraquianas enfrentam membros do Estado Islâmico em frente ao museu, na ofensiva para retomar a cidade - AFP / ARIS MESSINIS - AFP / ARIS MESSINIS
Imagem: AFP / ARIS MESSINIS


Vitrines vazias

A Assíria, com sua capital Nínive (no Iraque atual), era um poderoso império do norte da Mesopotâmia. A arte assíria é especialmente conhecida por seus baixos-relevos que representam, sobretudo, cenas de guerra.

O museu de Mossul, o segundo mais importante do país, continha objetos inestimáveis deste período e da era helenística, que datam de vários séculos antes da era cristã.

Mas agora as vitrines de ferro e madeira estão vazias, cobertas de vidros quebrados.

Espalhadas no chão, etiquetas, em árabe e inglês, dão testemunho de perdas inestimáveis: "Dois copos de prata encontrados no cemitério de UR (...) que datam de 2.600 a.C" e "Vários objetos pequenos encontrados nos palácios reais de Nimrod, do século IX a.C.".

Segundo Salih, a instituição expunha uma centena de peças, das quais apenas seis eram cópias.

Depois da proclamação em 2014 de seu califado entre Iraque e Síria, o EI multiplicou as destruições em massa de locais antigos, gravando frequentemente estes atos em vídeos espetaculares, como em Nimrod, joia do império assírio fundada no século XIII a.C, e destruída com escavadeiras e explosivos.

No museu de Mossul, só escaparam das destruições dois caixões de madeira maciça de cor escura, decorados com inscrições corânicas caligrafas, que pertenceram, segundo Salih, a imãs xiitas que viveram no século XIII.

"É possível uma restauração, mas a dificuldade está em saber se todos os fragmentos serão encontrados, ou se faltam alguns", explica Salih. Será preciso tempo, afirma, para encontrar os objetos roubados pelo EI para vendê-los no mercado negro.