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Mestre do mangá japonês Jiro Taniguchi deixa legado eclético e brilhante

12/02/2017 08h03

Paris, 12 Fev 2017 (AFP) - Jiro Taniguchi, um dos mestres do mangá japonês, faleceu no sábado (11), em Tóquio, aos 69 anos, por complicações de uma grave doença, deixando como legado histórias simples e humanas que recriam a vida cotidiana do seu país.

Premiado em inúmeras ocasiões em seu país e na Europa, Taniguchi causou sensação nos anos 1980 com "Botchan no Jidai".

Uma década depois, tornou-se conhecido no exterior com "Haruka na Machi-e" (Um Bairro Distante), sua obra-prima adaptada para o cinema.

Suas histórias transcenderam amplamente o horizonte dos mangás ao serem traduzidas em vários idiomas.

Nos anos 1990, deslumbrou o mundo da HQ com "Chichi no koyomi" (O diário de meu pai) e "Kodoku no gurume" (Gourmet).

Suas histórias simples e humanas refletem com precisão a intimidade dos bairros japoneses, e oferecem uma excursão pela vida cotidiana do seu país, fazendo lembrar o cinema de seu compatriota Yasujiro Ozu, com temas universais, como a família, infância ou natureza.

Reconhecia a influência de desenhistas europeus como o francês Jean Giraud (Moebius), com quem publicou "Ícaro", seduzido muitos leitores em todo o mundo, especialmente na França.

"Ele preparava um novo trabalho para a família, uma história em três volumes 'A floresta milenar', toda em cores, uma novela próxima ao mangá", indicou à AFP sua agente e tradutora para o francês, Corinne Quentin.

"Um grande autor""Sua obra íntima e falsamente nostálgica nos seduzia, mas antes de tudo era um grande autor", assegura Sébastien Langevin, chefe de redação da revista francesa especializada Canal BD Manga Mag.

"Não gostava de avião, mas era tão curioso e viajava muito em sua cabeça, o que fica claro em suas obras menos conhecidas", afirma Quentin.

Tanichugi nasceu em agosto de 1947, em Tottori, em uma família muito modesta, e começou a desenhar em 1970.

O tsunami e o posterior desastre nuclear de Fukushima, em 2011, quase o fizeram abandonar a profissão, segundo confessou em uma entrevista à AFP, em seu estúdio tomado de livros.

Mas o incentivo dos leitores o fez superar este momento de pessimismo.

Nesse mesmo ano recebeu na França a insígnia de Cavaleiro da Ordem das Artes e Letras.

Em 2003, recebeu o Alph'Art de melhor roteiro no Festival Internacional de Comics de Angulemme, (França) por "Harukana machi-e".

Essa mesma obra foi premiada no Salão do Comic de Barcelona no ano seguinte.

Também recebeu prêmios nos anos posteriores no Salão do Comic do Principado de Astúrias.

A beleza do traço"Foram os leitores, incluindo os franceses, que me incitaram a continuar", disse, na ocasião, o artista que trabalhava no estilo antigo, sem um computador, porque afirmava não saber fazer de forma diferente.

"Magníficos seus desenhos de Veneza em um caderno de viagens. Quantas pessoas no mundo são capazes de recriar tão bem a beleza veneziana, o mar veneziano, o ar veneziano?", escreveu em seu blog a artista Mari Yamazaki.

"Ele tinha um traço de tal ecletismo que você sempre se perguntava qual seria o seu próximo trabalho", declarou à AFP o autor de mangá J.P. Nishi.

"O mangá é uma parte dos quadrinhos com códigos muito fortes. E dentro desses códigos, ele foi capaz de criar obras que conversavam com todo o mundo", lembra Langevin.

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