Topo

Leonard Cohen, poeta melancólico e símbolo de uma juventude dourada

11/11/2016 12h28

Montreal, 11 Nov 2016 (AFP) - O músico e poeta canadense Leonard Cohen, que faleceu aos 82 anos nesta quinta-feira, marcou uma geração com sua poesia melancólica e uma voz grave com a qual cantava baladas, muitas vezes sombrias, mas também românticas.

Nascido em 21 de setembro de 1934 em Westmount, Montreal, em uma família de classe média judia, Leonard Cohen passou seus anos de estudante para a poesia. Publicou algumas coletâneas de poemas, com um estilo romântico, enquanto se estabelecia em Londres e na ilha de Hydra, na Grécia.

Com uma poesia muito íntima e ainda distante de lhe proporcionar uma renda, Cohen começou a aplicar na música o seu talento para a escrita e, uma vez que se mudou para Nova York, lançou com sucesso sua carreira como cantor em meados dos anos sessenta.

Várias gerações continuaram a cantarolar suas canções mais populares, como, por exemplo, "Suzanne" ou "So Long Marianne", que ilustraram em 1967 suas primeiras composições marcadas pela inquietação e descontentamento amoroso.

Dois anos depois, o artista lançou "Songs from a Room", influenciado pela música country como na canção "Bird on the Wire", um de seus maiores sucessos e interpretado por vários artistas como Johnny Cash e Joe Cocker, e um tom mais sombrio.

No início dos anos 70 começou um relacionamento com a artista Suzanne Elrod, com quem teve dois filhos, Adam e Lorca, batizada assim em homenagem ao poeta espanhol Federico Garcia Lorca. Mas o casal nunca se casou.

A carreira de Cohen foi marcada por uma poesia prolífica, transportada para canções como "The Partisan" e "Seems so long ago, Nancy", que também refletiam sua cadência melancólica.

Seus primeiros discos foram lançados a um ritmo constante, sem uma verdadeira evolução no estilo e com canções incorporadas em uma voz profunda e grave, por vezes convertida em um sussurro, e musicalizada com sintetizadores e coros femininos.

DepressãoEm suas canções, Leonard Cohen fala sobre sua depressão bem como de sua espiritualidade e, mais tarde em sua carreira, seus ideais de justiça social.

Em 1984 lança "Hallelujah", um de seus sucessos mais conhecidos do álbum "Various Positions" (então com pouco sucesso), após três anos de esforços e quase uma centena de esboços.

Nos seus dias mais desesperados, o compositor foi encontrado em seu quarto de hotel batendo a cabeça contra o chão, conta o jornalista Alan Light em um livro dedicado a "Hallelujah".

Esta canção obteve grande sucesso comercial duas décadas depois na versão de Jeff Buckley, que morreu antes de ver a enorme onda gerada com a canção em 2000, incluída em várias trilhas sonoras de filmes e séries de TV.

Com o opus "I'm your man" de som e arranjos mais modernos, Cohen tentou em 1988 romper com a sua melancolia persistente. O cantor dedicou o álbum à fotógrafa de moda, a francesa Dominique Isserman, sua companheira na época.

EspiritualidadeNa década de 1990, Leonard Cohen desapareceu do cenário musical, refugiando-se no budismo assim como outros artistas nos anos 70, tornando-se um monge em 1996 e ingressando num mosteiro na Califórnia.

Durante esses anos, seu empresário tirou vantagem da relativa ausência de Cohen para roubar-lhe a maior parte de sua fortuna. O fraudador foi condenado a devolver alguns milhões de dólares em meados de 2000, época que coincidiu com o retorno do artista, idolatrado por uma nova geração.

Em 2010, ele recebeu o Prêmio Grammy pelo conjunto de sua carreira, e o Prêmio Príncipe das Astúrias de Literatura (em 2011) e outras condecorações.

Dois anos depois ele lançou "Old Ideas", seu décimo segundo álbum, acolhido positivamente pela crítica e pelo público, chegando a estar entre os mais vendidos por várias semanas.

Aos 80 anos, lançou seu 13º álbum, "Popular problems" (2014), caracterizado por um tom mais otimista no crepúsculo de sua vida.

Em 21 de outubro, poucos meses após a morte de sua musa Marianne Ihlen, lançou o álbum "You want it darker", com reflexões sobre a morte.