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Bob Dylan, a voz enigmática de um poeta

13/10/2016 12h11

Nova York, 13 Out 2016 (AFP) - Bob Dylan, ícone da música do século XX com composições e letras comprometidas que proporcionaram milhões de fãs, foi anunciado nesta quinta-feira, de modo surpreendente para muitos, como o vencedor do prêmio Nobel de Literatura.

A lenda do folk rock surgido da contracultura dos anos 1960 é um poeta que vai além de qualquer rótulo.

Muitas de suas canções se tornaram verdadeiros hinos, como "The Times They Are A-Changin'" ou "Blowin' in the Wind".

Considerado uma das figuras mais influentes da música popular do século XX, Dylan tem uma carreira prolífica, na qual conjuga música e poesia, com canções longas em que narra histórias.

Com "Mr. Tambourine", uma de suas músicas mais celebradas, cria um personagem literário a partir de um baterista que conheceu nos clubes do Greewich Village de Nova York.

Em "Hurricane", narra a vida do boxeador Rubin 'Hurricane' Carter, que havia sido acusado injustamente de homicício triplo.

Com "Like a Rolling Stone", Dylan rompeu as convenções da música pop com uma canção de mais de seis minutos de duração.

"Depois de escrever aquilo, não estava interessado em escrever um romance ou uma peça de teatro ou nada (...) Queria escrever canções", afirmou Dylan sobre um de seus grandes sucessos.

- Enigmático -Em maio, o artista completou 75 anos, mais ativo do que nunca. No mesmo mês lançou "Fallen Angels", o 37º álbum de estúdio de sua longa carreira, no qual voltou a surpreender a muitas pessoas ao interpretar standards da canção americana que ficaram famosos na voz de Frank Sinatra, como "All the Way".

Um ano antes, Dylan já havia divulgado o álbum "Shadows in the Night", de baladas da americanas popularizadas por Sinatra.

Apesar de sua enorme influência cultural, Dylan é uma presença enigmática e aclamada, apesar de sua voz.

"Os críticos têm sido duros comigo desde o Dia Um. Os críticos dizem que não posso cantar. Um coaxar. Que a voz parece um sapo", disse Dylan no ano passado em um discurso inesperado ao receber um Grammy por sua carreira.

Sua relação com o público beira a indiferença e hostilidade, com a recusa veemente de ceder aos pedidos dos espectadores para cantar seus grandes hits.

Em sua apresentação na sexta-feira passada na abertura do festival Desert Trip, que reúne os veteranos do rock na Califórnia, Dylan não dirigiu nenhuma palavra à multidão e permaneceu muito tempo de costas.

- O início -Dylan percorreu um longo caminho desde seu início humilde.

Nascido como Robert Allen Zimmerman, em uma família judaica em 24 de maio de 1941 em Duluth, Minnesota, aprendeu sozinho a tocar violão, gaita e piano.

Zimmerman, que criou o nome artístico de Bob Dylan supostamente por influência do poeta galês Dylan Thomas, começou a se apresentar em clubes locais inspirado pela música do cantor folk Woody Guthrie.

Abandonou a universidade e se mudou para Nova York em 1960. Seu primeiro álbum tinha apenas duas canções originais, mas seu disco de 1963 "The Freewheelin' Bob Dylan" já incluía letras próprias, como o clássico pacifista "Blowin' in the Wind".

Armado com uma gaita e um violão, Dylan protestou contra a injustiça social, a guerra e o racismo. Rapidamente se tornou um importante militante pelos direitos civis e um prolífico compositorm, com 300 canções gravadas em três anos.

A primeira turnê britânica de Dylan foi registrada no documentário "Don't Look Back", de 1965, o mesmo ano em que provocou a revolta de seus fãs ao se apresentar com uma guitarra elétrica no Festival de música folk de Newport, em Rhode Island.

Seus álbuns seguintes, "Highway 61 Revisited" e "Blonde on Blonde" receberam excelentes críticas, mas a carreira de Dylan entrou em hiato em 1966, depois que ele sofreu um grave acidente de motocicleta. Sua produção perdeu força na década de 1970.

No início dos anos 1980, a música de Dylan refletia sua conversão ao cristianismo, o que foi atenuado com os álbuns sucessivos e, na década de 1990, parece ter retomado o talento explosivo que o distinguiu no início da carreira.

No século XXI, além das gravações e turnês regulares, Dylan também teve tempo para apresentar um programa de rádio, "Theme Time Radio Tour", e publicar en 2004 o livro autobiográfico "Crônicas: Volume 1", que se tornou um best-seller nos Estados Unidos.

Também inspirou filmes como o documentário "No Direction Home" (2005) de Martin Scorsese e "Não Estou Lá" (2007), protagonizada por Christian Bale, Heath Ledger e Cate Blanchett, todos eles interpretando o cantor e compositor.

Dylan venceu 11 prêmios Grammy, um Globo de Ouro e um Oscar, em 2001, de melhor canção original por "Things Have Changed", do filme "Garotos Incríveis". Também recebeu o prêmio Príncipe de Astúrias das Artes em 2007.

Em 2008 recebeu um prêmio Pulitzer honorário "por seu profundo impacto na música e cultura popular americana, com suas composições líricas de extraordinário poder poético".

sct-yow/fp