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Ameaça cibernética paira sobre eleições americanas

04/08/2016 16h57

Washington, 4 Ago 2016 (AFP) - Podem os hackers alterar as eleições americanas? Depois do vazamento em massa de comprometedores e-mails do Partido Democrata, especialistas em segurança temem que os ciberataques dirigidos do exterior estejam tentando alterar a corrida para a Casa Branca.

"As motivações podem ser muito diversas", opina Bob Hansmann, da empresa especializada em segurança informática Forcepoint.

"Pode se tratar de perturbar, desacreditar, ou comprometer um candidato. Ou de transtornar todo o sistema político", advertiu.

Em 22 de julho, três dias antes da inauguração da na Convenção Nacional Democrata, na qual Hillary Clinton foi indicada candidata, o WikiLeaks divulgou cerca de 20.000 e-mails pirateados das contas de sete dirigentes do partido.

Revelando o menosprezo de algumas lideranças democratas pelo então pré-candidato Bernie Sanders, rival de Hillary nas prévias, a exposição dessas mensagens ofuscou o início da grande festa democrata e colocou os envolvidos em uma saia-justa.

Esse ataque virtual "foi o último aviso de que informações que têm um grande valor interno podem ser usadas como armas, se forem publicadas", disse Steve Grobman, da IntelSecurity.

Segundo ele, esse ataque é "um exemplo de uma iniciativa de ciberativistas, cujo objetivo é roubar informações sensíveis de uma organização e publicá-las, de modo a maximizar o dano à sua reputação, a suas operações, ou a seu funcionamento".

As equipes de campanha são alvos fáceis, segundo Bob Hansmann, já que têm um grande número de empregados e voluntários que se deslocam constantemente, equipados, em geral, com seus computadores e smartphones pessoais, não necessariamente dotados dos melhores sistemas de segurança.

'O alvo é o processo democrático'A hipótese de que hackers russos estejam atrás do ataque, como afirmam vários funcionários e especialistas, acentuou os temores de uma intervenção estrangeira na campanha eleitoral americana, que termina em 8 de novembro.

Apesar de a Rússia negar qualquer envolvimento, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, deu a entender, na semana passada, que essas acusações contra Moscou estão no âmbito do possível.

Os Estados Unidos "dispõem de medidas que permitem impor sanções, se obtivermos as provas de um ataque mal-intencionado proveniente de um ator vinculado a um Estado", declarou Obama.

O FBI (a Polícia Federal americana) investiga o caso, mas ainda não chegou a qualquer conclusão.

"Esse tipo de ciberataque tem como alvo nosso próprio processo democrático", denunciou Bruce Schneier, do grupo especializado em Segurança Resilient, ligado à gigante IBM.

"E isso coloca a hipótese de um problema ainda mais grave em relação a novembro, pelo fato de nosso sistema eleitoral e nossas máquinas de votação poderem ser vulneráveis a um ataque parecido", alerta Schneier no post em um blog.

O voto eletrônico está proposto em vários centros de votação dos Estados Unidos.

Se o roubo de mensagens eletrônicas dos democratas tiver sido feito por hackers russos, "terá sido uma ação temerária", avalia o especialista em Tecnologias Estratégicas James Lewis, do Center for Strategic and Internacional Studies (CSIS), de Washington.

O roubo dessas mensagens do partido de Hillary Clinton tem, segundo ele, todas as características de uma invasão virtual russa.

"Eles habitualmente conseguem disfarçar melhor seus rastros", alegou.

"Os russos se sentem envolvidos em um novo conflito, no qual o controle da informação é uma ferramenta e até uma arma", garantiu.

"Consideram que as instituições ocidentais controlam a forma como o mundo percebe as coisas e sentem a necessidade de enfrentá-las", completou.

"Há indícios tangíveis que indicam que indivíduos que agem sob a direção, ou sem nome da Rússia - o grau de coordenação não está claro - estão tentando usar" os dados confidenciais roubados de grandes organizações "para influir na eleição presidencial americana", garante o especialista em Segurança Nacional Susan Kennessey, no think tank Brookings Institution, em Washington, no blog especializado Lawfare.

"Estamos frente à questão de como elaborar uma resposta que nos permita proteger nossas instituições democráticas", completou.