Após exumação, restos mortais de Neruda voltam a ser enterrados no Chile
Com a vista para o mar que inspirou sua poesia no balneário de Isla Negra, o prêmio Nobel chileno Pablo Neruda voltou a ser enterrado nesta terça-feira (26), pela quarta vez, depois que seus restos foram exumados para investigar se foi assassinado pela ditadura de Augusto Pinochet.
Cobertos por uma bandeira chilena e escoltados por vinte familiares e membros da fundação que administra sua obra, os restos de Neruda voltaram a ser depositados no túmulo localizado no pátio da majestosa casa em forma de barco na qual passou seus últimos dias, e onde também descansa sua última esposa, a soprano Matilde Urrutia, constatou um jornalista da agência AFP.
Em um dia ensolarado, a tradicional tranquilidade deste pequeno balneário da costa central chilena foi interrompida pelos gritos de "Companheiro Pablo Neruda presente, agora e sempre!" lançados por um grupo de militantes do Partido Comunista - no qual o poeta militou por toda a vida - que acompanharam a certa distância a sóbria cerimônia.
Desta forma, o poeta voltou ao lugar no qual pediu para ser enterrado e para onde seus restos foram levados em 1992, dois anos após o retorno à democracia depois da ditadura de Pinochet, saldando uma velha dívida com o poeta que deu ao Chile um Nobel de Literatura em 1971.
"Hoje para nós não é um funeral, pelo contrário. Voltar à Isla Negra é voltar a olhar o mar e voltar a olhar o mar não é morrer, é voltar a viver, sobretudo para um poeta", disse a jornalistas Raúl Bulnes, presidente da Fundação Pablo Neruda.
Durante a tarde, habitantes do balneário farão uma pequena homenagem ao seu hóspede mais ilustre e que tornou o balneário famoso no mundo, sendo visitado todos os anos por milhares de turistas que buscam conhecer um dos locais que inspiraram o autor de "Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada".
"Não há possibilidade alguma de impor o esquecimento ou a desmemória, esperamos que algum dia venham à tona as verdadeiras razões da morte de Neruda", comentou à AFP Patricio Aguilar, militante comunista que com uma bandeira vermelha com foice e martelo, símbolos do partido comunista, se aproximou para se despedir de seu famoso companheiro.
Quarto enterro
Neruda, nascido em 12 de julho de 1904, morreu em uma clínica de Santiago no dia 23 de setembro de 1973, doze dias depois da instauração da ditadura de Augusto Pinochet, que depôs o governo do socialista Salvador Allende, amigo do poeta.
Com uma cidade ainda abalada pelo suicídio de Allende após o bombardeio aéreo e terrestre do Palácio Presidencial pelas forças golpistas, Neruda foi enterrado no Cemitério Geral de Santiago, em uma pequena cerimônia que se converteu no primeiro ato de resistência contra a nascente ditadura.
Um ano depois o corpo foi exumado e voltou a ser enterrado no interior do mesmo cemitério de Santiago, onde permaneceu até 1992, quando o então presidente Patricio Aylwin (que morreu na semana passada) organizou um funeral e ordenou sua transferência a Isla Negra.
Permaneceu ali até abril de 2013, quando por ordem do juiz Mario Carroza seus restos foram exumados no âmbito da investigação que busca determinar se foi envenenado pela ditadura de Pinochet.
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